Ex-presidente da entidade diz que havia denúncia de atentado
Ruben Berta
A explosão de um artefato popularmente conhecido como cabeção de nego, na tarde de ontem, na sede da Seção Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), no Centro, assustou quem estava no prédio, e trouxe à tona fantasmas do passado. Ex-presidente da entida, Wadih Damous disse que informações recebidas por meio do Disque-Denúncia, pouco após o incidente, diziam que ele seria o alvo de um atentado, praticado por militares da reserva. Damous será o presidente da Comissão da Verdade do Rio, que vai investigar os crimes cometidos durante a ditadura.
A explosão ocorreu pouco depois das 15h, numa escada entre o 8º e o 9º andar do edifício. Havia uma grande movimentação de advogados, principalmente no 9º andar, já que seria realizada ali uma reunião da comissão seccional da OAB, que definiria inclusive pela possível exclusão de dez afiliados. O primeiro alerta, segundo o atual presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, veio do Corpo de Bombeiros, por telefone, que chegou em poucos minutos com pelo menos três equipes, mas a bomba já tinha explodido. Agentes do Esquadrão Antibombas, da Polícia Civil, chegaram quase que simultaneamente ao prédio.
- Ainda é cedo para afirmarmos alguma coisa, mas tudo indica que se trata de um atentado - disse Santa Cruz, que acrescentou que irá analisar futuramente medidas de segurança para a sede - Somos uma casa aberta ao povo. Seria complicado agora, por exemplo, instalarmos catracas nas nossas entradas.
O prédio foi rapidamente esvaziado para que fosse feita uma varredura em busca de outros possíveis explosivos. Após quase duas horas de inspeção, o edifício foi liberado. Ao lado do local onde o artefato explodiu, foram encontrados outros três cabeções de nego. A polícia acredita que o objetivo dos autores era apenas assustar. O caso será investigado pela 5ª DP (Mem de Sá). Uma das dificuldades para encontrar o autor é o fato de não haver imagens de câmeras de segurança no local onde o artefato foi deixado.
Integrantes da OAB-RJ divulgaram uma cópia da denúncia que chegou à entidade na tarde de ontem. O texto dizia que tinham sido instalados na sede "três dispositivos em série de retardo C4 (um tipo de explosivo plástico) de alto poder de destruição por militares da reserva para matar Wadih Damous". Mostrando indignação com o suposto atentado, o advogado lembrou do ataque que, em agosto de 1980, matou Lyda Monteiro, então secretária do conselho federal da entidade.
- Não descarto que essa provocação tenha partido de algum militar envolvido nesse caso. Se ele já era nossa prioridade, agora será a prioridade da prioridade - comentou Damous.
Lyda morreu após abrir uma carta-bomba, que seria endereçada ao presidente do Conselho Federal da OAB na época, Eduardo Seabra Fagundes. Até hoje, não houve conclusão sobre os autores do atentado.
Fonte: O Globo
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