Vannildo Mendes, Débora Bergamasco
BRASÍLIA - Num ato declarado de sabotagem, cerca de 500 manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) - a maioria mulheres - invadiram ontem a Fazenda Aliança, propriedade da família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Encapuzados e munidos de foices, eles destruíram o canteiro de mudas de eucaliptos. Os seguranças e empregados da fazenda se recolheram aos alojamentos e não houve confronto.
O MST afirmou que a ocupação visava a marcar posição política contra o agronegócio e em defesa da reforma agrária. “A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas”, afirmou Mariana Silva, dirigente do movimento em Tocantins. “Nosso objetivo foi mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo.”
A invasão da propriedade da senadora faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas, que está em andamento desde segunda-feira, com a participação da Via Campesina e do Movimento Camponês Popular (MCP).
A ocupação da fazenda, que está registrada no nome do filho da senadora, o deputado federal Ira- já Abreu (PSD-TO), durou cerca de uma hora. No lugar do canteiro de eucaliptos, os ativistas deitaram sementes de arroz e feijão, além de mudas.
Entre as justificativas para a sabotagem, Mariana disse que a fazenda já foi multada duas vezes por crimes ambientais. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) confirmou as punições, em 2011 e 2012, por desmatamento em Área de Preservação Permanente (APP).
Assustada com a ocupação, a senadora disse ontem que vai contratar segurança armada para proteger a propriedade. “Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida. Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá?”
Ação política. A integrante da bancada ruralista classificou a ação dos sem-terra como um ato político, com o intuito de inibir sua atuação como defensora do direito à propriedade privada. Ela se qualifica como “combatente dos crimes de invasão”.
De acordo com o Ministério da Justiça, a apuração de eventuais excessos nas manifestações é de responsabilidade das polícias de cada unidade da federação. A Polícia Federal informou que acompanha a movimentação das mulheres.
Um dos principais alvos da jornada de luta em andamento é a indústria de papel e celulose. Em Itabela, no sul da Bahia, militantes do MST ocupam desde segunda-feira uma fazenda de eucalipto da Veracel Celulose. Outras duas fazendas da Suzano Celulo se foram invadidas na cidade de Teixeira de Freitas.
A coordenação do movimento estima que quase 1,2 mil mulheres participam das ações.
De acordo com Evanildo Costa, da direção estadual do MST, as terras serão desocupadas quando as empresas se sentarem à mesa para negociar a liberação de áreas para assentamento. “As companhias estão adquirindo terra de forma muito rápida e inviabilizando a reforma agrária”, disse.
Por meio de nota, a Veracel informou que a invasão contraria compromisso firmado com os movimentos sociais, com mediação do governo estadual, para a criação de assentamentos sustentáveis na região.
No Rio Grande do Sul, as mulheres se concentraram diante de uma unidade da empresa Milenia, em Taquari, no interior do Estado, para protestar contra o uso de agrotóxicos na agricultura.
Colaboraram Heliana Frazão e Elder Ogliari.
Dois lados
Mariana Silva, dirigente do MST em Tocantins:
“A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Nosso objetivo foi mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo.”
Kátia Abreu, senadora (PSD- TO):
“Eu, que sempre dormi sozinha na fazenda com meus filhos pequenos, sem nunca andar armada, agora não vou deixar meus filhos e meus funcionários correndo risco de vida. Imagine se resolvessem colocar fogo nas dezenas de máquinas que tenho lá?.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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