Roldão Arruda
Há 15 anos as mulheres do MST realizam no início de março as chamadas jornadas de luta - com invasões de terras e de edifícios públicos, passeatas e interdições de rodovias - para lembrar o Dia Internacional da Mulher e cobrar a realização da reforma agrária no País. Em áreas de reflorestamento, elas também incluem nos protestos a depredação de áreas de pesquisa de melhoramento genético e viveiros.
O caso mais barulhento ocorreu em 2006, quando 2 mil mulheres invadiram um horto florestal e um laboratório de pesquisas da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul. Em termos de publicidade para o movimento, foi uma péssima iniciativa, associada a vandalismo. A imagem do laboratório destruído, a entrevista com a pesquisadora que não conteve as lágrimas ao ver o estrago e a revelação de que 20 anos de estudos genéticos haviam sido prejudicados só serviram para alimentar antipatias contra o MST.
As militantes do movimento justificam as depredações como forma de chamar a atenção para os problemas ambientais causados pela expansão da monocultura do eucalipto, no rastro da indústria de celulose. No caso da Aracruz, o objetivo era denunciar o fato de que o empreendimento contava com financiamento público. Agora, na Fazenda Aliança, em Tocantins, estariam tentando chamar a atenção para um projeto de reflorestamento que, segundo o MST, é feito com eucaliptos, e não com plantas nativas da região.
Embora ainda patrocine ações violentas desse tipo, o MST parece ter consciência de que elas mais prejudicam do que ajudam a sua imagem e a causa da reforma. Uma indicação disso é o primeiro balanço da movimentação das mulheres neste ano, divulgado ontem pela coordenação nacional.
Ele mostra que a depredação em Tocantins foi um ato isolado da jornada, que, iniciada no dia 4, se estende por oito Estados. Até ontem haviam sido registradas oito ocupações de áreas rurais e a interdição temporária de uma rodovia federal, a Belém-Brasília. As mulheres também invadiram três edifícios públicos, entre eles a sede do Ministério da Agricultura, em Brasília, e os escritórios de duas empresas particulares.
Além de reivindicar terras para a reforma agrária e combater o agronegócio e o uso de agrotóxicos, elas protestam contra o Poder Judiciário, pela lentidão nos processos que envolvem crimes contra militantes de movimentos. Foram quatro atos de protestos, em diferentes locais.
A jornada, que também incluiu marchas em cinco cidades, deve prosseguir hoje, Dia Internacional da Mulher.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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