BRASÍLIA - A discussão sobre uma eventual aliança entre o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) e o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) se configura, por ora, em mais uma das inúmeras incertezas que a exagerada antecipação da sucessão eleitoral provoca.
Falta tempo para a convenção do PSDB em maio; muito tempo para o fim do prazo de filiações partidárias em setembro; muito mais tempo para a definição dos bons ou maus indicadores econômicos de 2013; e mais de um ano para as convenções partidárias no ano que vem. Até cada um desses eventos, aos poucos, ocorrer, tudo é possível no emaranhado político-partidário brasileiro. E tudo serve como instrumento - por que não arma? - para fazer política. Cogitar Eduardo e Serra juntos é só mais um desses instrumentos.
A Serra, isso serve muito bem agora. O ex-governador perdeu a eleição para prefeito de São Paulo e é colocado de lado nas discussões internas do PSDB. A despeito de ser fundador do partido e ter longa ficha de serviços prestados à legenda. Não aceita, portanto, essa situação. Muito menos o papel proeminente assumido por Aécio Neves, um político que considera apenas mediano.
A Eduardo, o debate sobre a união também serve muito bem, uma vez que vislumbra solução para dois grandes problemas: pouco tempo de TV e falta de palanque em São Paulo. Para resolver o primeiro problema, sua estratégia até agora era comer na base da presidente Dilma Rousseff e atrair partidos como PDT, PTB e PR para sua coalizão. Dilma percebeu e já tenta seduzir seus descontentes com espaços no governo.
A Eduardo, então, resta começar a pensar em comer na oposição. Um novo partido, criado de supetão, sem as amarras legais das 500 mil assinaturas e todo o trâmite burocrático, possibilita a migração generalizada de descontentes, estejam eles na base ou na oposição. Se a legislação eleitoral não se alterar, todos carregarão consigo os sonhados segundos de tempo de televisão para potencializar sua candidatura.
Além disso, tendo em seu campo Serra, consegue dar uma carga econômica a seu discurso, ainda muito superficial. Aliás, como o de todos os outros que se colocam como desafiantes da presidente. Consegue ainda um palanque forte em São Paulo, perdido depois que Gilberto Kassab (PSD) aderiu ao petismo. Por outro lado, estar com Serra o obrigaria a entregar os seus cargos na Esplanada e a assumir um papel de oposição, o que dentro do PSB não é visto como algo positivo. O que só confirma que uma conversa com Serra pode ser apenas mais um mero instrumento para fazer política. (CJ)
Fonte: Valor Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário