Há uma grande vantagem para o país nesse início de debates públicos, que se dá como se já estivéssemos às vésperas das eleições de 2014, inclusive para nós, da oposição, tanto do ponto de vista interno, como do ponto de vista da exposição pública de ideias e propostas. Desvantagem só para o governo que antecipa as tensões que sempre se dão nos momentos eleitorais. É nesse sentido que considero a entrevista de Aécio Neves, hoje, na Folha de São Paulo, uma valiosa contribuição.
Nessa entrevista Aécio aborda temas econômicos decisivos para o país, fazendo críticas e expondo ideias que estarão, nos próximos meses, no centro dos debates.
Concordo com a tese central de que o governo Dilma vem sendo leniente com a inflação que, como diz Aécio, está penalizando a população de baixa renda. Esta é uma doença que vivemos no Brasil durante décadas. Foi a grande responsável pela iníqua distribuição de renda em ainda nos envergonha e foi o grande instrumento para expropriar os assalariados, que contra ela não têm defesas, em benefício dos que se enriqueceram com a especulação financeira e com a especulação da propriedade imobiliária. O seu enfrentamento vitorioso e a sua superação, com o Plano Real, foi o momento mais glorioso da Nação nos últimos tempos.
Tenho, porém, ressalvas à certas afirmações e entendo que é justo e necessário que elas sejam colocadas, contribuindo assim para a formação das propostas que serão objeto de avaliação pelo eleitorado.
Em primeiro lugar não penso “que a política nacional-desenvolvimentista, que acha que o Estado tem de ser o indutor do crescimento econômico”, não tenha dado certo, como afirma Aécio. O que, a meu ver, não deu certo é a falta de bom senso e de critérios acertados do atual governo no uso dos instrumentos de indução do desenvolvimento. Dou como exemplo o uso indiscriminado e indevido dos financiamentos públicos, em especial do BNDES, e as reduções de impostos feitas de maneira errática e conjuntural. Uma política nacional desenvolvimentista – não nos termos do passado, nem mesmo nos termos de algumas medidas do presente em que se supõe que através das empresas e recursos estatais se opera a economia do país – é algo que deve estar no horizonte das propostas da oposição. Essa bandeira, bem definida e construída, deve ser nossa.
Em segundo lugar entendo que mais importante do que o aumento da taxa de juros, e a discussão da autonomia do Banco Central, é o governo atacar de forma rápida e profunda a baixa produtividade de nossa economia, principal razão da elevação da inflação e empecilho para indústria brasileira exportar. Se o governo continuar paralisado como está atualmente, não há taxa de juros que promova a contenção da inflação.
Em terceiro lugar me parece equivocada a visão de que o governo errou em tentar obter as menores tarifas nas concessões na área da infraestrutura. O erro está em, demagogicamente, se restringir às baixas tarifas, em procurar fazê-lo sem que os concessionários sejam obrigados a realizar os investimentos necessários para melhorar e adequar o que lhes é concedido para modernizar e operar. Obter a menor tarifa é um imperativo – como fizemos nas concessões ( Via Dutra, Ponte Rio Niterói, etc ) quando fui Ministro dos Transportes do governo Itamar Franco – sem abrir mão de qualificar o objeto concedido com as obras necessárias para atender ao interesse público.
Essa é a minha contribuição ao debate.
Fonte: Blog do Goldman
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