Analistas dizem que IPCA já acumula alta de mais de 6,5% em 12 meses. Dilma convoca reunião com o ex-ministro Delfim Netto e o ex-secretário Luiz Gonzaga Beluzzo, de Sarney, para avaliar alta dos preços, que estão afetados por chuvas, alta do frete e demanda aquecida. A disparada dos preços dos alimentos, que chegaram a subir mais de 100% nos últimos 12 meses, como o tomate e a farinha, ameaça a meta de inflação do governo. Com a alta no frete, as chuvas prolongadas e a demanda aquecida, analistas apostam que o teto da meta, de 6,5%, já estourou no mês passado. É a primeira vez que isso ocorre desde novembro de 2011. Para avaliar o crescimento e a alta da inflação, a presidente Dilma Rousseff realizou ontem uma reunião com o ex-ministro Delfim Netto e o ex-secretário de Política Econômica do governo José Sarney, Luiz Gonzaga Beluzzo
Preços salgados sobre a mesa
Chuvas e frete caro pressionam alimentos. IPCA deve superar teto da meta em março
Clarice Spitz
Sem trégua na inflação
RIO E PORTO ALEGRE - Uma combinação de frete alto, chuvas prolongadas e demanda aquecida está pressionando os preços de alimentos e mantendo-os em um patamar incomumente alto no varejo. A pressão dos preços reforça a aposta de analistas de que o teto da meta de inflação seja estourado em março. O IBGE divulga na quarta-feira o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, referência do governo), do mês passado. Se confirmada a previsão dos analistas, de uma alta mensal entre 0,47% e 0,50%, a inflação vai estourar, em 12 meses, o teto da meta, que é de 6,5% - será a primeira vez que isso ocorre desde novembro de 2011, quando a alta acumulada do IPCA chegou a 6,64%. O objetivo do governo é manter a inflação em 4,5% ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
Alguns alimentos mais do que dobraram de preço nos últimos 12 meses, como o tomate, que subiu 105,89%, e a farinha de mandioca, com alta de 140,57%, segundo dados do IBGE. Embora a inflação pelo IPCA-15 (índice que serve de prévia para o IPCA) tenha ficado em 6,43% em 12 meses, os alimentos subiram 12,96%.
E mesmos alimentos cujos preços já começam a cair no atacado ainda estão em alta no varejo. Uma das razões é o frete. O diesel usado para abastecer os caminhões já teve dois reajustes nas refinarias este ano, de 5,4% em janeiro e de 5% em março. Com o frete em alta, uma queda de preços no atacado não chega ao varejo. No Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M, da Fundação Getulio Vargas), o trigo no atacado caiu 2,26%, mas a farinha de trigo subiu 4,36% em março.
O economista da LCA consultores Fábio Romão calcula que somente o frete vá acrescentar à inflação neste ano 0,20 ponto percentual. Ele explica que o aumento do preço do diesel pesou sobre o frete e que o IPCA deve fechar o ano em 5,3%. Na suas projeções, a inflação acumulada em 12 meses subirá a 6,62% no resultado fechado de março. Até agora foram dois reajustes do diesel neste ano: em 30 de janeiro e 6 de março. E há especulações que outro ainda poderia ocorrer.
- No atacado, os preços estão caindo desde janeiro. Tem uma parte que é efeito sazonal, mas o encarecimento do frete também está contribuindo para essa resistência dos alimentos - afirma Romão. - Essa demora também tem a ver com o câmbio desvalorizado.
O frango inteiro passou de uma alta de 2,91%, em fevereiro, para 1,80%, em março, considerando os dados do IPCA-15, que mede a inflação entre os dias 15 de cada mês e serve como uma prévia do IPCA. O frango em pedaços passou de 6,87% para 2,15%. A carne de porco desacelerou de 1,75% para 0,19%.
- Poderia ter sido caído bem mais - aponta Romão.
O frete de grãos subiu mais de 56% até março. Normalmente esse avanço fica entre 10% e 15%.
- Isso de alguma maneira vai chegar ao produto final, porque compõe esse custo - afirma Daniel Latorraca, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
Sobre o frete pesaram ainda a mudança nas regras de jornada para caminhoneiros, que encareceu o custo das contratações. Após uma jornada de 11 horas, agora é obrigatória uma parada de 24 horas. A colheita de uma supersafra da soja, aliada à problemas logísticos como a indisponibilidade de caminhões, estradas esburacadas e o atraso no desembaraço em portos, também pressionaram o custo do frete.
- O frete subiu mais de 50% nos três primeiros meses do ano e isso tem impacto em toda a cadeia - afirma Luis Otavio de Souza Leal, do banco ABC Brasil.
Os produtos chamados in natura (hortaliças, legumes e frutas) sobem em razão de um período de chuvas prolongadas. Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, o movimento deles e da refeição fora de casa são o principal foco de resistência para uma desaceleração maior nos preços de alimentos. Ela espera que o IPCA em 12 meses fique em 6,59%.
Para o especialista em inflação, André Braz, do Ibre FGV, só em abril os alimentos devem dar uma arrefecida mais consistente.
Ontem, em Porto Alegre, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, disse que a autoridade monetária não descarta recorrer a novas medidas para conter os preços:
- O BC continua tendo como objetivo maior a manutenção dos preços. Demonstramos preocupação com a persistência da inflação nos últimos meses. Continuamos cautelosos. Já tomamos medidas, mas outras podem ser necessárias.
Fonte: O Globo
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