Atos de Centrais mobilizaram menos que manifestações de jovens no mês passado.
No Rio, passeata convocada por sindicalistas reúne cerca de cinco mil pessoas e termina em confronto entre PMs e radicais mascarados no Centro, onde bancos não abriram, e nas imediações do Palácio Guanabara.
A mobilização das centrais sindicais causou a interdição de trechos de rodovias federais em 18 estados, mas levou às ruas muito menos gente que as manifestações organizadas pelas redes sociais, em junho. Houve atos em 22 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, a marcha reuniu dez mil pessoas na Avenida Paulista. Em junho, 100 mil saíram às ruas apenas em um dia na capital paulista. No Rio, foram cerca de cinco mil pessoas, contra 300 mil em 20 de junho. A passeata, pacífica no Centro, acabou em confronto entre PMs e um grupo de mascarados. Também houve confronto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado. O principal alvo dos protestos foi a equipe econômica de Dilma, criticada até pela CUT, ligada ao PT.
Força tímida das centrais
Sindicalistas bloqueiam estradas em 18 estados; protestos sem o vigor das redes sociais
SÃO PAULO, BRASÍLIA, PORTO ALEGRE, RECIFE, BELÉM e RIO - Numa mobilização que não atingiu as projeções das próprias centrais, milhares de sindicalistas fizeram paralisações, bloquearam estradas e foram ontem às ruas em todo o país para levar a agenda trabalhista em pelo menos 150 cidades de 22 estados e no Distrito Federal. Houve passeastas e marchas nas rodovias. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram registradas interdições em 66 trechos de rodovias federais de 18 estados. No Rio, apesar do número reduzido de manifestantes — cerca de cinco mil pessoas, contra 300 mil registrados em dia 20 de junho — o ato acabou em confronto. Em São Paulo, a marcha de dez mil pessoas — contra mais de 100 mil dos protestos de junho — seguiu pacífica na Avenida Paulista e no Centro da capital.
Além do número menor de pessoas, o ato convocado pelas oito centrais sindicais, entre elas a CUT e a Força Sindical, também se diferenciou da histórica marcha das ruas por conta da lista de reivindicações. Em junho, a população, convocada pelas redes sociais, pedia redução da tarifa do transporte coletivo, combate à corrupção e à impunidade e melhores serviços públicos. Ontem, o principal alvo foi a equipe econômica do governo Dilma Rousseff, criticada até mesmo pela CUT, ligada ao PT. A voz dos sindicatos exigia ainda a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; o fim do fator previdenciário; e o reajuste para aposentadores, pontos históricos da mesa de negociação com o governo há anos.
Para centrais que reúnem milhões de filiados — 2,6 milhões na CUT e mais de 1 milhão na Força —, as lideranças tiveram, diante da fraca mobilização, que admitir a frustração:
— Tínhamos a confiança de que os trabalhadores de metrô e ônibus parassem (em São Paulo), mas eles ficaram devendo desta vez. O que queríamos era fazer a mobilização, chamar a atenção, e isso conseguimos — disse o secretário-gerai da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.
Pauta imposta prejudica movimento
Numa análise sobre o desempenho abaixo da expectativa das próprias centrais, há quem sentencie: um cardápio de reivindicações definido de cima para baixo só tende a afastar a base trabalhadora das lideranças sindicais.
— São manifestações de estruturas verticais, onde as pessoas são apenas convocadas a participar, não a opinar ou levar cartazes com suas próprias rei-vindicações. As centrais tratam as pessoas como massa, não como protagonistas — dispara Marco Antônio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). — A grande maioria do sindicalismo é governista e a atual conjuntura impõe novos desafios às forças que fazem parte do condomínio petista — emenda Ruy gomes Braga Neto, do Departamento de Sociologia da USP.
O próprio Movimento Passe Livre (MPL), responsável por desencadear as manifestações da chamada Jornada de Junho, ironizou o ato de ontem.
"Só mudamos a vida quando sabemos pelo que lutamos. Há tantas reivindicações diferentes sendo levantadas nesse dia 11 que elas tendem a ficar diluídas. E não sabemos a quem interessa essa diluição, mas certamente não é aos trabalhadores" disse o grupo, por meio de uma rede social, principal instrumento usado para mobilizar a sociedade nas últimas semanas.
Em meio ao esvaziamento, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, logo deixou de lado a pauta de reivindicações, e partiu para um discurso de viés político:
A equipe econômica perdeu as condições de dirigir o Brasil. É necessário a demissão da equipe econômica. O ministro (Guido) Mantega fala e ninguém mais presta atenção — afirmou o sindicalista; que pretende realizar um novo ato em agosto, novamente junto às principais centrais.
Os trabalhadores do setor de transporte público, embora tenham decepcionado os líderes, pararam em Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador. No fim da tarde, motoristas de ônibus também encamparam, mas em operação padrão. Para evitar mais problemas aos usuários, a Justiça de São Paulo determinou o funcionamento integral das linhas do metrô no horário de pico, o que se verificou ao longo do dia.
Em Porto Alegre, o transporte público parou, apesar de uma decisão judiciai que exigia a manutenção de 50% da frota rodando, em meio a protestos que reuniram cerca de duas mil pessoas no Centro. Sem ônibus, o funcionamento do comércio e das indústrias foi afetado.
No Paraná, houve prostestos em pedágios. Integrantes do MST tomaram uma praça de pedágio na região metropolitana de Curitiba, e abriram todas as cancelas. Em São Luiz do Purunã, seis pessoas foram presas, de acordo com o site Gl.
Nos serviços de Saúde, o maior impacto ocorreu no Paraná, onde também houve protestos e bloqueios nas vias de acesso ao Porto de Paranaguá. Sindicalistas conseguiram parar o Hospital de Clínicas de Curitiba. Cerca de 1,2 mil consultas foram canceladas, e mais de 700 pedidos de exames tiveram de ser remarcados.
Em Belo Horizonte, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que todas as estações do metrô foram fechadas. Cerca de 500 metroviários ainda bloquearam o trânsito na Praça Sete, no Centro.
Três portos foram atingidos pelos protestos. Itaguaí (RJ), Suape (PE) e Santos (SP). Dos 31 navios atracados no terminal santista, dez não conseguiram operar devido à manifestação dos estivadores. Os outros 21 não tiveram problemas para fazer a carga e descarga porque são mecanizados. Já em Belém, diversos grupos acompanharam osos protestos dos sindicalistas.
Fonte: O Globo
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