Ato com pauta trabalhista foi mais expressivo em capitais onde transporte parou; no Rio, houve confronto
Organizado por nove centrais sindicais em todo o País, o Dia Nacional de Lutas levou manifestantes novamente às ruas ontem em 26 capitais e no Distrito Federal, mas em proporções bem menores que os protestos iniciados no dia 6 de junho. Os presidentes das centrais cumpriram acordo e evitaram ataques diretos ao governo Dilma Rousseff. Eles fugiram de temas polêmicos, como plebiscito e reforma política. Nas entrevistas, porém, não escondiam suas diferenças. Com o foco em pautas trabalhistas - fim do fator previdenciário, redução de jornada de trabalho e contra a terceirização de profissionais -, as manifestações tiveram maior visibilidade nas cidades em que houve paralisação dos serviços de transporte, como em Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES). A cidade de São Paulo saiu da rotina e a quinta-feira pareceu domingo. Ao longo do dia, atos fecharam grandes vias da capital, mas quase não houve congestionamentos.
Bloqueios afetam venda e produção
As manifestações organizadas ontem petas centrais sindicais afetaram a produção industrial e as vendas do varejo. Trabalhadores não conseguiram se deslocar. A produção foi paralisada em pelo menos quatro refinarias brasileiras e em oito unidades de montadoras.
Protestos em todos os Estados param capitais e bloqueiam 48 rodovias
Paralisado foi maior em MG, ES e RS, onde faltou transporte público; houve registro de incidentes e pelo menos 9 feridos nos atos
Apesar de motivar protestos em todos os Estados, a paralisação convocada pelas centrais sindicais foi mais forte nas cidades em que funcionários do transporte aderiram, suspendendo as atividades, e onde as manifestações conseguiram bloquear rodovias. Ocorreram atos em todas as 26 capitais e no Distrito Federal e 48 estradas, em 18 Estados, foram bloqueadas» Essas interdições também levaram a confrontos, com feridos.
As Polícias Civil e Militar foram informadas pelas centrais dos atos em todo o País, acompanharam a maioria e registraram poucos incidentes. Um estudante de 21 anos ficou ferido durante manifestação em Varginha (MG), ao tentar bloquear uma via - um motorista avançou sobre o grupo. Outras quatro pessoas ficaram feridas no Rodoanel, em Embu das Artes, em situação semelhante (mais informações na página AS). Nas capitais, o confronto mais grave aconteceu no Rio, com pelo menos quatro feridos (mais informações nesta página).
Impulsionado pela falta de transporte público, o movimento teve mais força em Belo Horizonte, Vitória e Porto Alegre. Em Salvador e no Recife, a maior adesão foi pela manhã. Na capital mineira, o metrô não funcionou - apesar de uma decisão judicial determinar escala mínima - e rodoviários impediram que ônibus deixassem as estações de bairros. Parte do comércio ficou fechada, assim como as agências bancárias.
O Dia Nacional de Lutas das centrais sindicais também paralisou .O transporte coletivo de Porto Alegre e, consequentemente, quase todo o comércio e os serviços. Tanto o Sindicato dos Rodoviários quanto a Empresa Pública de Transporte e Circulação admitiram que to dos os 1,7 mil ônibus deixaram de circular e 1,2 milhão de pessoas foram prejudicadas. Outros serviços, como o trem metropolitano e os ônibus intermunicipais, não funcionaram.
Em Vitória, o clima era de feriado, mas sem ônibus nas ruas. Manifestantes fecharam os principais acessos à ilha às 5h30 e interromperam até itinerários interestaduais.
Ainda se viu clima de feriado em Manaus, com 60% do transporte parado pela manhã e comércio fechado pelo medo de manifestações. A capital teve cite um ato público envolvendo cinco comunidades indígenas.
Já em Salvador, onde os trabalhadores das empresas de transporte paralisaram as atividades entre as 4 e as 8 horas, bancos, escolas e universidades públicas, o comércio popular do centro e empresas do Polo Industrial de Camaçari não funcionaram. Delegacias e hospitais só recebiam urgências.
Estradas. Nas rodovias, a maior parte dos bloqueios também ocorreu pela manhã - embora às 20 horas ainda fossem registradas interdições em pelo menos cinco Estados. O maior alvo das manifestações foram rodovias federais - 32 tiveram bloqueios, que atingiram até áreas essenciais, como acessos a capitais, portos e refinarias.
Uma liminar da Justiça Federal de São Paulo proibiu o bloqueio de tráfego nas rodovias federais do Estado pela Força Sindical e pela União Geral dos Trabalhadores (UGT). O pedido foi ajuizado pela Advocacia-Geral da União (AGU). No caso, o descumprimento prevê multa de R$ 100 mil por hora. Apesar disso, as estradas paulistas também tiveram manifestações.
Apesar de o governo admitir até o uso da força pela Polícia Rodoviária Federal nas estradas, houve a opção pelo diálogo para a liberação das rodovias. Na maior parte dos casos, a desmobilização à tarde foi iniciada pelos manifestantes.
Os protestos atingiram algumas das principais estradas do País, como a BR-101, que cruza do Sul ao Nordeste. Houve problemas na Bahia, na Paraíba, em Sergipe e Santa Catarina, com formação de filas nos dois sentidos. No maior protesto, que reuniu 12 entidades sindicais às 15h30, cerca de 1.500 manifestantes de Joinville, Brusque, Blumenau e de outras cidades do litoral, bloquearam a rodovia no km 117, em Itajaí. /Ângela Lacerda, Ayr Aliski, Elder Ogliari, Marcelo Portela, Tiago Décimo, Júlio Castro, Nayanne Nóbrega, Renata Magnenti, Rene Moreira e Rodolpho Paixão, Especial para O Estado.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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