O Palácio do Planalto articulou com a cúpula do PT a movimentação do Diretório Nacional do partido no sentido de enfraquecer internamente o deputado federal Cândido Vaccarezza (SP). O objetivo principal era frear o crescente sentimento petista de retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cena eleitoral em 2014.
Ex-líder do governo Lula, posto que manteve com a presidente Dilma Rousseff até ser defenestrado em março de 2012, Vaccarezza, como dizem seus correligionários, é o mais pemedebista dos petistas. Se por um lado é pragmático ao extremo e afeito aos acordos que destravam nós políticos e regimentais no Congresso, por outro encampa as críticas que o PMDB faz contra Dilma com muita facilidade. Em suma: acha seu governo fraco, na política e na gestão.
A forma como levar adiante a reforma política foi mais uma de suas discordâncias com o governo que, dada a conjuntura de manifestações e a popularidade ladeira abaixo de Dilma, considerou sua posição anti-plebiscito e pró-referendo uma afronta.
Ocorre que o próprio Lula tinha avalizado o caminho escolhido por Vaccarezza para a reforma, mediante votações no Congresso a serem submetidas posteriormente a um referendo popular. Na avaliação que fizeram em conjunto, tanto o prazo para viabilizar um plebiscito já para 2014 era inviável quanto a falta de apoio na base, submetida de forma unilateral e sem consulta prévia com o tal pacto pela reforma política.
Foi então que, em um jogo combinado, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), muito próximo a Vaccarezza e também contra o plebiscito, nomeou o petista para coordenar os trabalhos da comissão da reforma política. No alto de seus 42 anos de mandato ininterruptos, fez, claro, seu cálculo político. Nomear Vaccarezza significava desestabilizar o PT, a quem atribui o vazamento de informações sobre seu voo para o Rio em avião da FAB com familiares para a final da Copa das Confederações. Afinal, o nome natural da bancada petista era o de Henrique Fontana, que se dedica ao tema desde 2011, como presidente da comissão especial da Câmara.
A partir daí, houve vários outros movimentos dentro do PT para reagir, e marcar posição, sobre o caso, todos eles presentes na reunião do diretório nacional sábado. A Mensagem ao Partido, corrente de Fontana que tem o deputado Paulo Teixeira (SP) como candidato a presidente da legenda, reuniu assinaturas e soltou uma nota contra Vaccarezza. Tentou ainda, no encontro de sábado, sem sucesso, destituí-lo da comissão.
O objetivo era angariar apoio interno e tentar retomar o protagonismo perdido na bancada, hoje controlada pela corrente Construindo Um Novo Brasil (CNB), a mesma de Vaccarezza, do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PR), e do líder da bancada, José Guimarães (CE).
Para bloquear esse movimento, Guimarães também soltou uma nota dizendo que as ideias de Vaccarezza não representam a da bancada e que o nome petista na comissão da reforma política era o de Ricardo Berzoini (SP), da CNB, já que Fontana desistira de participar. A nota teve apoio de Rui Falcão, presidente do PT e candidato à reeleição pela CNB. O cálculo político foi justamente o de anular o movimento da Mensagem e de Paulo Teixeira, ainda que isso custasse sacrificar Vaccarezza e contrariar parte da CNB que não queria vê-lo sendo atacado. São, como ele, defensores do "volta, Lula". Em outra manobra para enfraquecer a Mensagem, a CNB também cuidou de, no sábado, flexibilizar regras de filiação partidária aprovadas no último Congresso Nacional do PT.
O partido ainda aprovou resolução com críticas ao conservadorismo dos aliados por serem contrários ao plebiscito. O texto ainda não havia sido divulgado até às 21h de ontem, mas de acordo com um petista que participou da sua elaboração, fala de apoio à reeleição de Dilma e da necessidade de recompor a base.
Assim, todo o barulho parece ter surtido mais efeitos no jogo interno petista na medida em que antecipou a tensão da disputa de novembro. Para fora, o aparente objetivo de todos, descartar Vacarezza, não foi alcançado. Com respaldo do PMDB, continuará a coordenar os trabalhos da comissão da reforma política, embora diga que também defenderá o plebiscito. Na quarta-feira, lança portal para colher sugestões de internautas. No mesmo dia, está prevista a retomada da agenda de comemorações dos dez anos do PT no poder. Lula e Dilma estarão juntos em Salvador.
Fonte: Valor Econômico
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