Em dimensões diferentes, o papa Francisco e o mundo político brasileiro enfrentam desafios bem semelhantes: suas instituições se desconectaram das vozes das ruas e correm o risco de serem destronadas. Uma, a médio e longo prazos. Outra, a curtíssimo.
Se os governantes brasileiros, Dilma Rousseff à frente, têm sangria de popularidade, pondo seus projetos de poder sob perigo no ano que vem, a Igreja Católica só fez perder fiéis nos últimos anos, como mostrou a pesquisa Datafolha --os católicos são hoje 57% dos brasileiros, bem abaixo dos 75% em 1994.
Daí que, nesse contexto, ganha relevância para lá do simbólico a vinda do papa ao Brasil. Pode ser uma oportunidade única de início de transformações na vida dos rebanhos de católicos e de eleitores.
Primeiro papa latino-americano, Francisco assumiu o comando da Igreja Católica como um sopro bendito de renovação. Talvez seja a pessoa, isso mesmo, pessoa, não santidade, certa para o momento de questionamentos do catolicismo.
Hoje espírita, nasci em família católica e tive intensa atividade na igreja entre os 15 e os 25 anos. Em grupos ligados à ala progressista, participei de trabalhos sociais na periferia de Belo Horizonte. Meu grupo era tachado de comunista pelo padre da nossa paróquia.
Nossos líderes, entre eles o saudoso padre Toninho Haddad, foram perseguidos e afastados de nós. Como os dogmas da igreja já não tocavam mais meu coração e mente, acabei dela me afastando.
Quando Francisco foi escolhido, confesso ter sentido saudades dos dias de católico. Só que tomei caminho sem volta, mas torço para que o pontífice consiga, de fato, resgatar a opção preferencial pelos pobres.
Seus bons exemplos indicam ser esse seu rumo e objetivo. Algo bem em falta entre os políticos brasileiros --de direita, centro e esquerda. Enfim, talvez o papa e as ruas, juntos, operem milagres por aqui.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário