Reversão do clima de confronto com o Poder Legislativo por meio da troca das pressões para enquadramento e subordinação, bem como das propostas de plebiscitos, pela busca de acertos bem pragmáticos com as lideranças dos diversos partidos da chamada base governista, sobretudo com as do PMDB (neste caso incluindo uma rejeição, explícita, da presidente às demandas de mu-dança no núcleo dessa base feitas por setores do PT e ministros mais próximos dela). Esforço para reversão ou atenuação desse confronto que é bem indicativo do protagonismo assumido por Lula na definição das relações entre o Executivo e o Congresso, a ser testada na apreciação de vetos presidenciais nas próximas semanas (com ensaio muito negativo ontem, da aprovação preliminar na Câmara do chamado orçamento impositivo de emendas parlamentares).
Sucesso, ao menos parcial, da aposta nas concessões na área de infraestrutura, tratada como instrumento essencial para uma reanimação da economia, em contraponto à sequência de indicadores contrários, e para a melhoria da baixa credibilidade do governo junto ao mercado. E aposta que enfrenta crescente risco de respostas pífias, com a persistência do desinteresse dos investidores pela maioria das licitações programadas para os próximos três meses, segundo reportagens, domingo último, da Folha – “Leilões de obras viárias podem ficar desertos”, e do Estadão – “Governo estuda ‘plano B’ para as concessões”. Quanto ao custoso megaprojeto do Trem-bala, o governo anunciou anteontem que ele poderá contar com recursos do BNDES (da BNDESPar) de até R$ 100 milhões, e de outra parte dos Correios, através da participação dos dois no consórcio vencedor do leilão. O que procurou atender demanda de possíveis investidores externos de um maior peso estatal na disponibilidade de recursos e na divisão dos riscos do polêmico empreendimento.
E ultrapassagem ou redução, em pesquisas à frente, do enorme desgaste da imagem do governo e da sua candidata, fator central da crise da base parlamentar oficialista e maior obstáculo à montagem da campanha reeleitoral e de seus palanques estaduais. Este é o objetivo do reforço da presença de Dilma na mídia – com o anúncio de medidas e planos administrativos e assistencialistas (praticamente todos requentados), inclusive com o uso de cadeia obrigatória de televisão, e em atos de indisfarçável caráter eleitoral em diversos estados e capitais. Ao qual se articulam ações, governamentais e do PT, de um lado, para atenuação do impacto social da fase conclusiva do mensalão, e, de outro, para compensar parte desse impacto com ênfase no envolvimento dos adversários do PSDB no processo (coincidentemente ou programadamente desencadeado agora) contra operação de cartel liderado pela Siemens em licitações do metrô e da CPTM de São Paulo.
Do avanço na viabilização, até o final de 2013, dessas três metas políticas do lulopetismo dependerão a garantia de um mínimo, indispensável, de governabilidade no pouco mais de 1/3 restante do mandato de Dilma e também a confirmação da própria candidatura reeleitoral. Que, sem esse avanço, dificilmente resistirá, na hora H das definições partidárias no primeiro semestre de 2014, a uma retomada muito forte do “volta Lula”. Então, não só como o “convite” feito este ano (recusado veementemente), mas como “convocação”, segundo manifestações de petistas próximos a ele registradas em matéria do Valor de anteontem. Ao que se seguiu avaliação do veículo de que “uma eventual candidatura de Lula em lugar de Dilma é considerada temerária por dirigentes do partido por ele ser corresponsável por seu governo. Com ela no cargo e a gestão mal avaliada pela população, ele teria dificuldade de sustentar um discurso na campanha”.
Jarbas de Holanda é jornalista
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