Tenho visto nas redes sociais e recebido inúmeros spams repercutindo (como dizem os jornalistas) as denúncias vazadas de processo "sigiloso" do CADE sobre o cartel de empresas para obtenção de vantagens ilícitas nas concorrências para obras e manutenção de trens no Metro e na Companhia de Trens Metropolitanos -CPTM, ambas do governo de São Paulo. Até aí, nada fora do normal.
O que me surpreende e causa certa perplexidade é o texto subliminar de inúmeras dessas mensagens como que dizendo: Estão vendo? Eles, os governos do PSDB, também fizeram. Também roubaram. Também estão sendo investigados.
Juntamente com isso, e às vezes das mesmas fontes ou próximas, vê-se a crescente tentativa de desacreditar o ministro Joaquim Barbosa, o principal condutor pelo processo e pelas condenações do mensalão, pelo fato de ter comprado um apartamento em Miami, ter filho trabalhando para a Globo e ter viajado com despesas pagas pelo Tribunal. E aí , novamente, vislumbra-se o mesmo tipo de sub-texto: Estão vendo? O ministro também tem mordomias. Também remeteu dinheiro para o exterior. Como pode ser ele isento e justo?
É óbvio que essas manifestações tem como foco, intencionalmente ou não, aproveitar a mais que sabida - e confirmada nas recentes pesquisas de opinião - desconfiança que a população em geral tem dos políticos brasileiros e juntá-la com a também conhecida complacência do brasileiro (parece até contraditório com a constatação anterior) com pequenos privilégios e falcatruas retratados na famosa Lei de Gerson, "o importante é levar vantagem em tudo, certo?" ou como no ditado popular "se o pirão é pouco, o meu primeiro" ou na nunca esquecida folclórica máxima da política brasileira, "rouba, mas faz!"
O resultado desse tipo de campanha é o maior afastamento dos cidadãos e das boas intenções das atividades e dos posicionamentos políticos levando a disputa eleitoral, mesmo que edulcorada no mais angelical marketing, para uma luta na pocilga da qual o vencedor, seja quem for, também sai sujo de estrume.
Isso serve como uma luva para aqueles que estão sujos e assim são vistos pela opinião pública. Com o eleitor rebaixando seus critérios políticos, éticos e morais para escolha de seus representantes a chance de eleição dos sujos e imundos, ou dos candidatos a eles vinculados, lavadinhos e perfumados na aparência pela propaganda eleitoral, aumentam substancialmente.
Para o bem ou para o mal na Democracia a representação política se resolve no voto, e cada voto é exatamente igual ao outro, seja o eleitor limpo ou sujo, crítico ou alienado, mobilizado ou passivo. Um eleitor, um voto.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, dirigente do Partido Popular Socialista (PPS) de Taubaté e do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@gmail.com
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