Apesar de escândalo envolvendo governos do PSDB em São Paulo, serristas se animam com pesquisa
Maria Lima
BRASÍLIA e SÃO PAULO - O resultado da última pesquisa Datafolha que mostra uma retração das intenções de voto do pré-candidato tucano Aécio Neves (MG) - de 17% para 13%, contra um crescimento de três pontos de Marina Silva, de 23% para 26% - reacendeu o movimento pró-Serra e reabriu a discussão sobre a realização de prévias para escolher o presidenciável do PSDB em 2014. Incomodado, Aécio, presidente nacional do PSDB, tem dito a interlocutores que o partido não se submeterá a chantagens. A orientação é: se o ex-governador José Serra oficializar a disposição de bater chapa e enfrentar a direção dos diretórios regionais, que em peso defenderam a pré-candidatura do mineiro, o assunto será decidido pela Executiva do partido.
Aécio diz que sempre defendeu prévias, se elas se fizerem necessárias. O presidente do Instituto Teotônio Vilela, e ex-presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), defendeu a candidatura de Aécio:
- Se tiver mais de um candidato, as prévias se justificam, o que não é o caso no momento. O PSDB tem um único candidato e está unido em torno dele. Não há possibilidade desse clima de divisão contaminar a candidatura de Aécio. O que nos aflige não é isso. O que temos é que encontrar uma sintonia com o eleitorado - disse.
Em um dos cenários da pesquisa, sem Aécio, Serra aparece com 14% das intenções de voto. Os aecistas creditam esse resultado às duas campanhas do tucano paulista à Presidência. Os serristas, por sua vez, admitem que há 15 dias não havia esse sentimento de recolocar Serra no jogo, mas hoje a realidade é outra: há vozes dentro do PSDB ligado ao governador Geraldo Alckmin (SP) defendendo isso.
A avaliação do entorno de Serra é que as manifestações de rua estão fortalecendo a candidatura de Marina Silva sem que ela precise "abrir a boca". E que Aécio só é imbatível em Minas, e fraco no resto do país - enquanto Serra é forte em São Paulo e tem presença homogênea nas outras regiões. Os serristas preferem o anonimato. Um deles dizia ontem no Congresso:
- Há um clima de que é necessário se rediscutir a candidatura do PSDB. A pesquisa foi uma surpresa geral. Um susto a queda de quatro pontos do Aécio, depois de tamanha superexposição. Se vierem mais manifestações de rua, quem vai continuar crescendo é Marina. E, se Serra sair do PSDB e disputar pelo PPS, é quase impossível Aécio ir para o segundo turno. Eu não acharia ruim que a Executiva trabalhasse para ele (Serra) continuar no partido, porque se sair, o maior prejudicado é Aécio.
Ausente das reuniões da Executiva e dos diretórios regionais, Serra tem alimentado especulações sobre sua candidatura, mas não explicitou suas intenções para a direção do partido.
- Esse movimento tem data marcada para acabar: dia 4 de outubro, quando vence o prazo de filiação partidária, e saberemos se Serra sairá do PSDB. Essas manifestações individuais não expressam a maioria do partido, que, de forma muito clara, apoia o nome de Aécio. Serra é um quadro muito importante e sempre contou com o apoio e solidariedade do partido para tudo que quis. Agora, o PSDB espera dele reciprocidade e solidariedade à pré-candidatura de Aécio - disse o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB), informando que Aécio viajará pelo país a partir de 13 de setembro. - Vozes isoladas não falam pelo partido.
Ex-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR) disse que Aécio é o melhor nome do partido para disputar a Presidência, mas criticou o fato de a definição ter sido antecipada, sem passar pelo crivo da militância, em prévias. Com os debates e as prévias, acredita, o nome de Aécio teria se fortalecido. Considera, porém, que não há mais tempo para se reabrir uma discussão sobre isso.
- O nome de Aécio está posto e anunciado, o fato foi consumado. Realizar prévias agora poderia parecer uma encenação perante a opinião pública. Neste momento, o mais apropriado é tentar remover as dificuldades impostas pelo equívoco e superar esse desconforto - disse Dias.
Ontem, Serra disse que, em 2014, poderá haver um perfil de candidatura de "gente que saiba fazer acontecer", ao qual disse se identificar. Em uma avaliação do cenário eleitoral, em palestra na capital paulista, o tucano considerou ainda que pode haver nomes que mantenham o atual quadro de "incerteza" e de nomes que surjam da "rejeição política".
- Você pode ter três hipóteses, a grosso modo: manter esse quadro, a meu ver, de incerteza. Pode ter um quadro que apareça basicamente da rejeição política, uma outra tendência. E pode ter uma linha de que precisamos ter gente que saiba fazer acontecer. Claro que eu me identifico, não como ator, mas como observador e analista, com essa terceira - disse.
No evento, o tucano disse que o cenário de 2013 é parecido com o de 2002, de incerteza quanto aos rumos do país. Segundo ele, falta ao atual governo traçar um rumo mais claro ao Brasil.
Fonte: O Globo
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