O governador de Pernambuco, e confesso pré-candidato pelo PSB à Presidência da República, manifestou-se contra a antecipação do debate eleitoral. Mas, convenhamos que fez este governador durante esses últimos tempos senão pousar de uma alternativa política à atual Presidenta da República? - O que fez o mandatário pernambucano mudar assim de idéia? Desistiu ele de ser candidato ou acha que suas chances são pequenas diante de Marina, de Aécio ou de Dilma? - O fato é que não passa um dia sequer que a fina estampa do governador do estado não apareça na mídia, inclusive nos eventos da Prefeitura do Recife. Pode uma pessoa que desde que iniciou o seu segundo mandato, só pensa em eleição, como se fosse uma idéia fixa?
Em debate, no programa "Opinião Pernambuco" com o presidente da OAB-PE, dissemos que no bojo da reforma política, haveria de se tratar da questão da reeleição, do uso da máquina e do interesse do ocupante dos cargos majoritários em estar permanentemente em campanha, prejudicando muitas vezes a própria gestão, para a qual ele foi eleito. A proposta apresentada era extinguir o instituto da reeleição, coibir fortemente o uso da máquina administrativa e esticar ou estender o mandato para seis anos. E cobrar uma atenção redobrada por parte do governante para com os problemas da cidade ou do estado. O instituto da reeleição favoreceria tanto ao uso desbragado do aparelho de estado para sua reeleição, como para que o seu ocupante vivesse permanentemente em estado de campanha eleitoral, em detrimento de uma agenda de interesse público (ou republicano).
A melhor pesquisa de aprovação da gestão municipal ou estadual é o grau de satisfação dos cidadãos com as ações administrativas desenvolvidas pelo gestor e seus secretários. É pelo grau de eficiência e efetividade que se mede a aprovação popular do administrador. Não pelo volume de recursos destinados à propaganda ou a obra de fachada, caras e inúteis, como a construção de estádios de futebol, para serem arrendados á iniciativa privada. Um gestor se credencia para receber os votos de seus concidadãos, até para ocupar outro cargo, quando atende satisfatoriamente a expectativa da sociedade. Pelo visto, nosso governador resolveu copiar o modelo de Aécio Neves, quando governador das Minas Gerais: investir pesadamente em propaganda e pesquisas de avaliação da imagem institucional de governo, a nível nacional, para se apresentar como uma alternativa viável à sucessão presidencial.
Devia, primeiro, ter combinado com os membros de seu próprio partido (PSB) e o ministro que o representa no governo de Dilma e os senadores que se elegeram pela sua coligação, sobretudo o senador Armando Monteiro Neto e o senador Humberto Costa. Por enquanto ele só conta com o apoio do seu ex-inimigo político, senador e ex-governador de Pernambuco. E não deve ser apenas por simpatia e amizade esse apoio. Devia também ter uma postura mais digna em relação á Presidente Dilma, sua aliada de primeira hora. Sua ambigüidade e hesitação não cumtribuem de modo nenhum para alavancarem sua pré-campanha.
Mas precisava, acima de tudo, combinar com os eleitores do estado de Pernambuco que confiaram em suas promessas. O que pode acontecer é uma espécie de estelionato eleitoral, praticado pelo nosso governante, que pode custar caro a ele e ao PSB. A não ser que ele pense que o voto é um cheque em branco, passado pelo eleitor, para que o gestor use como quiser sem prestar contas à sociedade do mau uso ele.
Michel Zaidan Filho é sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco
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