Na seara política, assessores, ministros e fiéis escudeiros da presidente Dilma Rousseff não escondem mais o desconforto em relação ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. No Planalto, há inclusive quem diga que está cada vez mais constrangedor o governador tratar abertamente de palanques nos estados e, ao mesmo tempo, ocupar o Ministério da Integração Nacional. A ideia de alguns é que, em setembro, ou seja, daqui a duas semanas, haja um ultimato ao governador: se for para apoiar a presidente, ótimo, que continue tudo como está. Se for para seguir em carreira solo, a porta de saída está aberta.
Alguns ministros têm dito que a Integração é área nobre, de ampla visibilidade política. Portanto, deixá-la amarrada ao PSB, que tem pré-candidato ao Planalto, não ajuda em nada a presidente Dilma. A não ser que o PSB abandonasse o projeto de carreira solo ou o ministro Fernando Bezerra Coelho mudasse de partido. Hoje, as duas hipóteses são descartadas pelos assessores de Dilma. Logo, chegou a hora de entregar a Integração a alguém "integrado" ao projeto de 2014.
Nessa perspectiva, há duas hipóteses para a Integração. A primeira delas é oferecer ao PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Seria a forma de colocar os pessedistas ainda mais próximos da presidente. Se não houver um acordo com o PSD, o cargo pode ser aproveitado para amarrar ainda mais o PMDB ao governo. A convenção que decidirá sobre a aliança entre PT e PMDB vira cada vez mais uma conta de chegada. Sem resolver estados importantes, Temer não terá como garantir uma convenção tranquila. E foi exatamente isso o que foi dito aos petistas na reunião de ontem à noite.
Da mesma forma que o governo dá um ultimato ao PSB, o PMDB ensaia algo parecido para apresentar aos petistas. Embora estejam cheios de dedos para dizer as coisas nas reuniões, os peemedebistas listam sete estados como prioritários para dar tranquilidade na convenção que escolherá Temer como candidato a vice-presidente na chapa de Dilma: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Paraíba, Pará, Rio Grande do Sul e Paraná. O Rio Grande do Sul não tem acordo, é cada um por si. Em Minas Gerais, a bancada estadual é Aécio e a federal está disposta a seguir o mesmo caminho.
Nos demais estados, a situação também não é nada tranquila. Rio de Janeiro, por exemplo, além do senador Lindbergh Farias, do PT, aparecer cada vez mais como pré-candidato de forma a tornar mais difícil um recuo, há ainda o fator Anthony Garotinho. No Congresso, Garotinho tem sido uma espécie de porta-voz da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Para completar, ele acaba de atrair Romário, que deixou o PSB para se filiar ao PR e concorrer ao Senado. Juntos, Romário e Garotinho podem dar dor de cabeça tanto ao PT quanto ao PMDB, e ainda pedir à presidente-candidata, Dilma Rousseff, que fique neutra na disputa estadual. Por essa, nem Lula esperava. E olha que a temporada mais intensa do troca-troca de partido está apenas começando — os candidatos às eleições de 2014 têm até 4 de outubro, um ano antes do pleito, para definir a filiação partidária.
Por falar em Lula...
Da mesma forma que atraiu o PMDB e o PT para uma conversa no sentido de organizar os palanques de Dilma nos estados, o ex-presidente é convocado agora para rodada de conversas com empresários. Ele foi procurado por representantes de alguns setores com reclamações a respeito do estilo de Dilma e da interferência direta do governo em negócios em que o setor público não deveria dar palpites. Com uma conversa bem franca, coisa rara entre os políticos, os empresários têm dito que ou Dilma muda ou não vão se comprometer com a reeleição.
Essas ações transformaram Lula em uma espécie de embaixador, encarregado de dar um ar mais diplomático aos ultimatos que surgem por toda parte nesse período pré-eleitoral. Afinal, já está claro no PT que a candidata é Dilma e, ao ex-presidente, cabe ajudar a limpar o terreno com punhos de renda. É isso o que ele tem feito e é o que fará até 2014. Ninguém hoje tem dúvidas de que ele é o verdadeiro coordenador da campanha de Dilma, embora oficialmente, o cargo termine ficando nas mãos de alguém que possa ser responsabilizado caso algo dê errado. Afinal, da mesma forma que os partidos brigam sempre com Ideli Salvatti ou Guido Mantega (nunca diretamente com Dilma), ninguém vai encarar uma disputa política com Lula. A não ser, óbvio, a oposição.
Enquanto isso, no Congresso...
Faltam 11 dias para o orçamento de 2014 chegar ao Congresso e até agora os deputados e senadores não apreciaram a Lei de Diretrizes Orçamentárias, que deveria ter sido aprovada até 30 de junho. Antes de querer tornar o orçamento impositivo, seria de bom tom os congressistas votarem a LDO, base para elaborar o orçamento anual.
Fonte: Correio Braziliense
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