Se até o namorado brasileiro do jornalista Glenn Greenwald é detido no Reino Unido, imagine-se o que vai acontecer com o próprio Greenwald quando ele puser os pés nos EUA, depois de ter revelado ao mundo as estrepolias digitais das agências de espionagem, ops!, de segurança do país. Um simples passeio não vai ser.
Um lance genial seria Greenwald desembarcar nos EUA na véspera da visita de Dilma Rousseff a Barack Obama em outubro. Sua prisão ofuscaria totalmente o encontro.
Os dois governos, de lá e de cá, trabalham com afinco para detalhar uma agenda densa, à altura do ritmo de aproximação bilateral dos últimos anos, e houve três visitas relevantes ao Brasil: as do secretário de Estado, John Kerry, e dos secretários de Energia e de Agricultura.
Os EUA e o Brasil estão entre os maiores produtores agrícolas do planeta e têm de tentar driblar os grandes fornecedores de petróleo e gás, que vivem às turras, num mundo quase à parte dos meros mortais.
Nem a agenda nem essas viagens, porém, têm tido importância e debate na opinião pública, que só pensa, fala e reclama da espionagem das agências dos EUA em governos, indústrias e até cidadãos e cidadãs.
Se Washington não consegue inverter a pauta da mídia agora, muito dificilmente conseguirá quando Dilma e Obama se encontrarem.
Esse cenário já preocupa previamente, mas poderá ficar muito pior caso Greenwald pegue um avião, desembarque no seu próprio país e vá direto do aeroporto para uma cadeia qualquer por ordem do governo --o mesmo governo que criticou a Rússia por conceder asilo provisório a Edward Snowden, que passou as informações ao jornalista.
As relações Brasil-EUA vão bem em diferentes áreas, sobretudo as estratégicas. Mas, queiram os dois lados ou não, a prioridade neste momento são as questões pontuais, essas que produzem manchetes.
É preciso tirar o bode da sala.
Fonte: Folha de S. Paulo
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