Dólar teve alta a partir de maio, com a mudança na política americana
Lucianne Carneiro
A “bola de cristal" dos economistas saiu arranhada em 2013. O ano chega ao fim com indicadores bem diferentes dos previstos em dezembro de 2012. A maior surpresa, ou decepção, veio de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pela economia) bem abaixo do estimado. O ano deve fechar com um PIB de 2,3%, inferior ao crescimento de 3,3% que se imaginava no início de 2013. As exportações também decepcionaram. A balança comercial deve terminar o ano com saldo de só US$ 1,18 bilhão, contra US$ 15,22 bilhões previstos antes. Isso mesmo com uma alta não prevista do dólar a partir de maio.
O crescimento econômico baixo de 2013 veio depois de uma alta de só 1% do PIB em 2012.
— De 2011 para cá, o crescimento do Brasil e do mundo têm frustrado as expectativas. No Brasil, apesar de o ritmo ter acelerado em 2013, frente a 2012, ainda é um crescimento baixo — afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
Ele lembra que, enquanto os investimentos surpreenderam positivamente em 2013 — a projeção inicial da LCA era de uma expansão entre 4% e 4,5%, e agora é de 7% —, o consumo das famílias cresceu a um ritmo de 2,3%, inferior ao estimado inicialmente, de 4%.
Na avaliação da economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o crescimento mais fraco da indústria, que não deslanchou mesmo com os incentivos do governo, ajuda a explicar a diferença entre o que ela projetava para 2013 e o que vê agora:
— Todos os setores se recuperaram, mas foi muito pouco. Por mais que o governo tenha tentado ajudar, com desonerações e incentivos como o PSI (Programa de Sustentação do Investimento, do BNDES), a recuperação da indústria foi pequena. O que corrobora a avaliação de que há problemas estruturais que dificultam o crescimento da indústria.
Balança pode ter déficit
A avaliação é compartilhada pelo economista-chefe do Santander, Maurício Molan, para quem a falta de competitividade tem restringido a economia brasileira.
— Não se consegue expandir a capacidade produtiva: falta mão de obra disponível e há um crescimento muito lento da produtividade. Quando se cresce o consumo, como ocorreu com as medidas de incentivo do governo, em vez de produzir mais, o país importa mais — afirma Molan.
Se o ritmo de crescimento da economia foi menor do que o projetado, no caso da taxa básica de juros Selic o que se viu foi o contrário: a taxa fecha 2013 em 10%, após um aperto monetário iniciado em maio. A expectativa de analistas era de que mantivesse os 7,25% com que encerrou 2012.
O movimento tem relação com o dólar, que se valorizou e pressionou ainda mais a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, usado nas metas de inflação do governo) chegou a acumular alta de 6,70% nos 12 meses encerrados em junho — ou seja, acima do teto da meta, que é de 6,5%. E deve chegar ao fim do ano em 5,72%.
No fim de 2012, analistas estimavam que o dólar encerrasse 2013 em R$ 2,09, com média de R$ 2,07, segundo o Boletim Focus, do Banco Central, que reúne as projeções de cem instituições financeiras. Agora, a estimativa é de R$ 2,34 em dezembro, com média de R$ 2,17. No Brasil e no mundo, o dólar mudou de tendência a partir de maio, quando ficou claro que os Estados Unidos encerrariam sua política de estímulos à economia americana que pressionava para baixo a cotação da moeda.
— O dólar se valorizou como resultado da mudança do cenário externo, mas também de uma inflação em patamar já elevado, da piora da saúde fiscal e da limitação da capacidade de produção do país — diz Molan.
É também do setor externo que vem outro indicador com grande discrepância entre o que se imagina no fim de 2012 e o que vê agora. Especialistas previam um saldo comercial de US$ 15,22 bilhões este ano. No acumulado entre janeiro e novembro, o superávit é de US$ 2,2 bilhões e a projeção para o ano é de apenas US$ 1,18 bilhão. Há quem acredite até na possibilidade de o país registrar o primeiro déficit na balança comercial desde 2000.
O quadro é resultado de exportações quase no mesmo nível de 2012 e de importações que continuam em crescimento. Segundo Maurício Molan, o salto das importações é resultado do mesmo problema que afeta o PIB: a dificuldade de expansão da capacidade produtiva do país.
Outro fator que tem prejudicado a balança comercial, lembra Silvia Matos, é o aumento da competição para os produtos manufaturados brasileiros no exterior, que afeta as nossas exportações. Com a crise nos países avançados, houve um ajuste e aumento da presença de produtos desses países no mercado externo.
Superávit maior em novembro
O quadro da balança comercial acabou deteriorando ainda mais o déficit em transações correntes, antes estimado em US$ 63 bilhões e agora em US$ 80 bilhões.
— Em 2013, tivemos um gap entre o déficit em transações correntes, que deve fechar em 3,4% do PIB, o volume de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), de 2,7% do PIB. Conseguimos financiar nosso déficit, mas com investimento em carteira e dívidas, ou seja, um perfil não muito saudável. O ideal é que esse financiamento seja via IED — diz Borges.
Já o superávit fiscal primário acabou, na reta final do ano, se aproximando do prometido pelo governo. A meta do superávit primário (economia que o governo faz para o pagamento de juros da dívida pública) começou o ano em R$ 155,9 bilhões, ou cerca de 3% do PIB. O objetivo já foi revisado pelo governo para R$ 110,9 bilhões, ou 2,3% do PIB. Nos 12 meses encerrados em outubro, o esforço fiscal foi de R$ 67,9 bilhões, ou 1,43% do PIB. Com ajuda do programa de parcelamentos de dívidas tributárias (Refis) e o leilão de concessão de Libra, no entanto, a situação mudou em novembro e o valor acumulado em 12 meses foi de 2,17% do PIB, ou R$ 103,2 bilhões.
Fonte: O Globo
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