- Zero Hora (RS)
A tradição brasileira era no sentido de vedar a reeleição do presidente, mais tarde estendida aos governadores. Faz pouco, a regra foi abolida, sendo seus beneficiários os presidentes Fernando Henrique e Luiz Inácio, e agora a pretende a presidente Dilma.
Não simpatizo com a ideia, a meu juízo, seus inconvenientes são maiores do que as eventuais conveniências. O caso vertente me fortalece a con- vicção. Quando escolhida por seu antecessor, falava-se que era a gerentona, dizem pela escassa delicadeza com os subordinados. O atual governo prova que falta gerência ao país, basta ver o que aconteceu com o setor elétrico e o descalabro na Petrobras.
Por isso, parcela de seus correligionários e amigos políticos divorciaram-se da corrente que postulava sua reeleição, o que a levou a reafirmar a candidatura e ao fazê-lo afiançou que tais restrições não a demoviam.
Outrossim, a oração da presidente no Dia do Trabalho foi um discurso puramente eleitoral, de uma candidata à reeleição, ou seja, não foi um discurso de presidente; no mínimo foi impróprio. Ao conceder generosidades que custarão cerca de R$ 9 bilhões ao erário, não procedeu como chefe de Estado.
Muitas seriam as razões pelas quais não me parece conveniente a reeleição. De mais a mais, só por exceção um governante, por melhor e mais capaz seja, que concretize seu projeto de governo, mil surpresas embaraçam suas intenções honestas. Uma segunda eleição asseguraria o cumprimento delas? Se a primeira não garante ao eleito o atendimento de todos os projetos, por que uma reeleição teria a virtude de assegurá-la? Até onde sei, nada autoriza a presunção. Ao contrário.
Por fim, distribuir dinheiro público às vésperas da eleição é quase a confissão de que a gerentona falhou na gerência.
Jurista, ministro aposentado do STF
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