- O Estado de S. Paulo
Com 39% das intenções de voto na pesquisa Ibope/CNI da semana passada, Dilma Rousseff (PT) está onde estava quatro anos atrás, no mesmo mês, no mesmo instituto, na mesma corrida eleitoral. As taxas são quase iguais, mas pesquisa não é foto, é filme. E, embora o recorte de um fotograma possa servir à propaganda, até o mais fervoroso petista sabe que a história eleitoral de 2014 é muito diferente da que elegeu Dilma.
Em junho de 2010, o governo Lula tinha 75% de ótimo/bom e sua aprovação só aumentava. O otimismo econômico se espraiava por todos os lados: a maioria aprovava não apenas o combate à fome e à pobreza, mas à inflação e ao desemprego. A percepção de que o noticiário era mais favorável ao governo era três vezes maior do que as percepção de más notícias. Quase uma euforia.
Naquele contexto, a estratégia da campanha de Dilma era elementar. Bastava associá-la a Lula na cabeça do eleitor. À medida que o nome da petista ia sendo reconhecido como a candidata do presidente, Dilma subia nas pesquisas. Naquele mês de junho, ela, pela primeira vez, alcançava a liderança isolada: 38%, contra 32% de José Serra (PSDB). Apenas dois meses antes, o tucano tinha 11 pontos de vantagem sobre ela.
Nas semanas seguintes, Dilma foi vendo aumentar sua intenção de voto: 43% em agosto de 2010, 51% no começo de setembro. Na inversa proporção, Serra caía de 40% em abril para 32% em meados de agosto e 27% em setembro. Ainda assim houve segundo turno, mas o resultado final da eleição é conhecido.
Corta para 2014. Qualquer semelhança entre o flashback de quatro anos atrás e o cenário atual resume-se aos 39% de Dilma no Ibope. A taxa de ótimo/bom do governo não é nem metade do que era quando Dilma foi candidata pela primeira vez. Os 31% atuais são, talvez, a linha de resistência da petista, mas são também seu patamar mais baixo desde que ela chegou ao poder.
Ao contrário de 2010, o pessimismo econômico é que se espraia para outras áreas de avaliação do governo. Combate à inflação e ao desemprego, saúde, segurança, educação, todos têm avaliações mais negativas do que positivas. Até o combate à fome e pobreza, maior símbolo petista, tem sua maior taxa de desaprovação desde que o PT assumiu o governo em 2003:53%.
A agenda é quase toda negativa para Dilma. A percepção de que as notícias são ruins para o governo é quatro vezes mais forte entre os eleitores do que a percepção do noticiário positivo. A euforia virou depressão.
Em função de tudo isso, o desejo de continuidade que regeu a eleição de 2010 transformou-se em desejo de mudar para pelo menos dois terços do eleitorado. Ao ponto de o marketing da petista incorporar o termo "mudança" ao seu vocabulário.
Nesse cenário, é até surpreendente que Dilma se sustente há quatro meses no patamar entre 37% e 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Ao contrário de 2010, a presidente segura-se no eleitorado mais pobre e menos escolarizado. Assim ela se mantém no jogo até que a propaganda comece na TV, e Lula possa, mais uma vez, atuar como seu principal cabo eleitoral.
Mas há uma diferença fundamental em relação a 2010. Há quatro anos, bastava Lula dizer que Dilma era sua candidata. Agora, ele precisa convencer o eleitor de que ela, a despeito da piora das expectativas e do desejo de mudança, é a melhor para fazer aquilo que o eleitor quer. É um desafio muito maior.
Se o cenário é esse, por que a oposição não avança mais? Questão de tempo, dirão Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Talvez. Mas é sintomático que os nanicos tenham chegado a 9% das intenções de voto antes de se tornarem conhecidos pela propaganda de TV. É sinal de que o eleitor está insatisfeito com as cartas que lhe deram e busca um curinga. Pode rir por último.
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