- Folha de S. Paulo
A primeira vez que fui a um estádio de futebol, no Mineirão, lembro de ficar perguntando ao meu pai por que aquele homem de preto ficava atrapalhando o jogo.
Criança, ainda não entendia as regras do que se tornou minha paixão no mundo esportivo. Mas começava ali minha indignação com os juízes, que já garfaram inúmeras vezes meu time do coração --Cruzeiro.
Minha raiva contra os homens de preto, que hoje usam uniformes de outras cores, nunca chegou, porém, ao ponto de achar graça no coro da torcida mandando o juiz tomar naquele lugar. Sempre achei de uma grosseria imensa, total mau gosto.
Até hoje, contudo, nunca ouvi ninguém protestar contra os xingamentos dirigidos aos árbitros. Contra eles tudo parece permitido.
Então, se pode contra o juiz, pode contra a presidente Dilma? Não, com nenhum dos dois. Mas como todos acham natural e numa boa insultar os árbitros, lá foi a torcida mal-educada xingar a presidente.
Dizem que soltar os bichos nos estádios é melhor do que fora dele. Tenho dúvidas. Vaias fazem parte do jogo. Agressões verbais, não. Revelam a índole dos selvagens travestidos de civilizados e dos que são presas fáceis do espírito de manada.
Considerar pequenas transgressões aceitáveis é um perigo. Devemos ser nos estádios como somos em casa, no trabalho, no trânsito. É um exercício diário de civilidade, de respeito com nosso próximo.
O risco é a selvageria verbal das arquibancadas contaminar de vez uma eleição que já está tensa. Acentuar ainda mais o discurso radical do "nós contra eles" entoado por Lula e por parte da oposição, dos que consideram divergências uma forma de traição e ingratidão.
Enfim, tomara que a Dilminha paz e amor arquitetada pelos marqueteiros prevaleça na campanha eleitoral. Aquela que, depois de um dia de reflexão, disse perdoar seus ofensores. E não a que diz não levar desaforo para casa. A conferir.
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