Gabriela Terenzi, José Marques – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O candidato à Presidência da República e senador Aécio Neves (PSDB) disse nesta quarta-feira (16) que irá rediscutir o atual sistema de partilha da Petrobras caso seja eleito.
Atualmente, o petróleo produzido pela estatal é de propriedade do Estado, regra estabelecida em 2009. Para Aécio, o modelo anterior, de concessões, "foi benéfico ao Brasil" e que é preciso "fazer essa discussão à luz do dia".
Pelo sistema de concessão, empresas são donas do óleo produzido e pagam remuneração ao Estado como royalties, participação especial e bônus de assinatura.
Aécio havia sido questionado se via espaço para mais privatizações no país.
"O que precisava ser privatizado foi privatizado", respondeu o senador mineiro. "O que eu vou fazer é reestatizar empresas públicas que hoje foram privatizadas por interesses escusos."
O tucano foi sabatinado em evento realizado pela Folha, pelo portal UOL, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan em São Paulo.
A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Ricardo Balthazar (Folha), Josias de Souza (UOL), Kennedy Alencar (SBT) e Patrick Santos (Jovem Pan).
Mais médicos
No evento, Aécio afirmou que manterá o programa federal Mais Médicos, mas que promoverá mudanças.
"Nós vamos manter os Mais Médicos, vamos fazer com que eles se qualifiquem e estabelecer novas regras para os médicos. Não vamos aceitar as regras do governo cubano", disse o senador.
Atualmente, as bolsas pagas aos médicos brasileiros e estrangeiros é de R$10 mil. Porém, diferentemente dos outros países, a remuneração dos profissionais cubanos é paga ao governo do país e apenas R$3.000 chegam ao bolso dos médicos.
Aécio disse que esse acordo terá que ser refeito, mas não explicou como garantirá que o atual número de profissionais será mantido caso Cuba não aceite nova proposta.
Hoje, cerca de 80% dos médicos do programa federal no Brasil é proveniente de Cuba.
'Medidas impopulares'
O candidato, que afirmou em jantar para empresários que teria coragem de tomar "medidas impopulares" para retomar o crescimento do país, disse que aprova "novas regras para aqueles que entrem no setor público", como no caso das pensões por morte.
Questionado se tinha propostas para uma reforma previdenciária que incluísse a revisão desse benefício, Aécio disse que "discutirá com a sociedade" a possibilidade de rever a legislação.
Segundo ele, se a regra for modificada, não afetará quem tem direitos adquiridos. "Não terá que ser imposto", afirmou.
Atualmente, o benefício é concedido aos dependentes de contribuintes da Previdência Social que morreram.
Aécio também disse que, se eleito, não governaria "com olhos na curva da popularidade".
Apesar da afirmação, o governador costuma usar a taxa de aprovação de sua gestão como governador de Minas Gerais (2003-2010) como um ativo de sua campanha.
"O mal, as medidas impopulares, estão sendo feitas por esse governo. O Brasil vive um processo de estagflação, de crescimento pífio, com inflação ultrapassando o teto da meta sem que o governo acene de forma absolutamente clara sobre medidas que tomaria no futuro para reverter esse quadro perverso", disse.
Alianças partidárias
O tucano disse que sua fala para os partidos dissidentes da base de apoio do governo federal que "suguem um pouco mais" da gestão petista e, então, o apoiem, foi "uma brincadeira".
"Nós temos que ter cuidado com essas ironias. Foi no dia em que eu recebi a notícia que o governo estava demitindo um ministro para entregar ao PR", afirmou o candidato.
No fim de junho, a pedido da legenda, a presidente substituiu o ministro dos Transportes César Borges pelo atual titular Paulo Sérgio Passos.
Apesar de filiado à legenda, o PR estava insatisfeito com a manutenção de Borges no cargo. O ministro, no entanto, era elogiado pela presidente.
"A presidente Dilma demitiu um ministro por excesso de honestidade. Demitiu o ministro do Transporte para acomodar alguns segundos a mais na televisão", disse Aécio.
Ele também foi questionado sobre a adesão do PTB, três dias antes do fim do período de convenções, à sua candidatura. Sob protestos de dissidentes, o partido, da base do governo, apoiará o tucano nas eleições.
Em 2010, o PSDB repassou R$ 1,5 milhão para partidos que apoiaram sua coligação.
Aécio, porém, diz que "não tem o que dar a não ser o futuro". "Em São Paulo, o PTB do deputado Campos Machado está conosco a vida inteira. Em Minas, segundo estado mais populoso, o PTB está em nosso governo desde o primeiro dia", afirmou.
"Que venham conosco porque somos perspectiva de poder, mas não foi feita troca nem com eles nem com ninguém", acrescentou.
Passe livre
Ao contrário do candidato do PSB, o ex-governador pernambucano Eduardo Campo, Aécio diz que a defesa do passe livre no transporte público não está em sua "lista de prioridades".
Na terça (15), também em sabatina, Campos disse que ele e sua vice, Marina Silva, levantarão a bandeira em campanha. O pessebista afirma que está "buscando fontes e formas de como isso vai acontecer".
Para Aécio, essa é uma responsabilidade municipal e se o governo federal quiser subsidiar a medida, "terá de mostrar de onde tem que tirar isso [o dinheiro]".
"Não dá para subsidiar transporte para estudante de escola particular que paga R$ 3.000 de mensalidade", completou.
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