• Casa Civil amplia sua influência no governo Dilma
- Valor Econômico
Passou quase despercebido, mas o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, deixou a reunião dos 16 ministros convocados para fazer o balanço da Copa tão logo a presidente Dilma Rousseff encerrou sua participação na solenidade. A rigor, Aldo deveria ser uma das estrelas do encontro, pois seu ministério foi o centro das principais ações de governo no Mundial. O mestre de cerimônias, no entanto, foi Aloizio Mercadante, o cada dia mais poderoso ministro-chefe da Casa Civil.
Não foi por acaso que Aldo saiu à francesa. Na reta final dos preparativos para a Copa, seu ministério perdeu espaço para a Casa Civil. A pergunta que se faz, no momento, é se Aldo fica no governo até o fim do ano e se permanece em eventual segundo mandato de Dilma. Nesse caso, terá o apoio do PCdoB para permanecer? Por último, e mais importante, qual será o papel do ministro do Esporte na organização da Olimpíada do Rio em 2016?
É difícil para o PCdoB tirar sustentação política de Aldo Rebelo, apesar de o ministro dedicar menos atenção que seu antecessor ao varejo político no Ministério do Esporte, cuja utilidade na caça de votos é bem aproveitada pelos comunistas. A maior dificuldade é o avanço da Casa Civil sobre a organização da Olimpíada do Rio, que será total, a depender da vontade de Mercadante. A ofensiva da Casa Civil nos assuntos da Copa já causou desgastes na relação dos dois ministérios. A briga em torno dos jogos olímpicos promete. É de cachorro grande.
Enquanto Gleisi Hoffmann comandava a Casa Civil, os grupos de trabalho funcionavam no Ministério do Esporte. Lá estavam os chamados "pontos de controle". Eventualmente Gleisi entrava em campo para dar um freio de arrumação, sempre de comum acordo com Aldo. Quando Mercadante assumiu a Casa Civil, em fevereiro de 2014, já encontrou essa configuração funcionando. Ainda assim avançou sobre o que foi possível. Houve problemas também com outros ministérios, mas o ruído maior foi mesmo com o Esporte.
Os atritos foram mais ou menos relevados em função da necessidade eleitoral do governo de passar na prova da organização da Copa. Mas já na reunião com os 16 ministros, o chefe da Casa Civil assumiu a regência da prestação de contas. Antes, pela manhã, Aldo concedera a própria entrevista de balanço junto com dirigentes esportivos.
Aloizio Mercadante já decidiu centralizar todas as ações relativas à Olimpíada do Rio na Casa Civil. O ministro, inclusive, deve convocar uma reunião do comitê organizador dos jogos para os próximos dias. Mercadante entende que o Palácio do Planalto tem que cuidar de tudo, porque tudo o que dá errado acaba por cair no colo do governo federal. Foi assim, por exemplo, quando os chilenos invadiram o centro de imprensa, no Rio de Janeiro, logo no início da Copa. A conta foi espetada no Planalto.
Há questões políticas a serem resolvidas. A mais urgente delas diz respeito às obras para a despoluição da Baía de Guanabara. Nos últimos 12 anos, especialmente nos oito anos de Lula, a relação do governo federal com o governo do Rio foi amistosa e favorável ao Estado em termos de investimento. As negociações eleitorais desgastaram essa boa relação, e o governo do Rio - responsável pela obra - só quer tratar do assunto depois da eleição.
Quando passou a monitorar as ações referentes à Copa, Mercadante também fez a interlocução com os governos estaduais. O ministro já teve uma conversa preliminar com dirigentes do Conselho da Rio 2016, a ser aprofundada nas reuniões que deve convocar a partir de agora.
Ao tomar conta da Olimpíada, Mercadante amplia ainda mais seu espaço de influência no governo. Com Gleisi Hoffmann, a Casa Civil da Presidência da República cuidava essencialmente da administração e de questões sensíveis para o governo federal, como a política de concessões. Mercadante ficou com tudo isso e passou a atuar também na esfera política. Entre outras ações que levaram a presidente a formar uma coligação de nove partidos em apoio a sua candidatura à reeleição, o ministro esteve no centro, por exemplo, da negociação que levou à substituição do ministro César Borges (Transportes) para atender o PR, algo que antes Dilma se recusava a fazer.
Nos governos do PT, esse é um modelo que não deu certo com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, depositário de um poder quase absoluto até ser abatido pelo escândalo do mensalão. O ex-ministro Antonio Palocci, ao retornar ao centro das decisões com a eleição de Dilma, bem que tentou mas não chegou a se transformar em superministro. Dilma, quando gerenciava a loja, tratou de ser a "Mãe do PAC", sua legenda de campanha nas eleições de 2010.
O ministro Mercadante gosta de onde está e sente prazer com o exercício de suas atuais funções. Não quer chefiar o comitê eleitoral de Dilma, como foi noticiado, mas quer dar palpites a partir do Palácio do Planalto. E dá. Na terça-feira, por exemplo, recebeu em seu gabinete o ex-ministro Franklin Martins para uma conversa sobre os atritos que surgiram na coordenação da campanha da presidente. Diz que também não está em seus planos ser ministro da Fazenda, em eventual segundo mandato de Dilma. Mas é certo que quer continuar dando pitacos na política econômica.
O ex-deputado Eliseu Padilha será o representante do PMDB no comitê de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Atualmente na presidência do Instituto Ulysses Guimarães, o ex-deputado integra o núcleo do grupo pemedebista da Câmara que nos últimos anos deu as cartas no partido, cuja figura mais vistosa do momento é o vice-presidente da República, Michel Temer. Padilha foi ministro dos Transportes no governo de Fernando Henrique Cardoso, o que não chega a constituir novidade no comitê de Dilma. Em 2010, o representante do PMDB foi o atual ministro Moreira Franco (Aviação Civil), assessor especial de FHC durante a ocupação do PSDB no Palácio do Planalto.
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