• "Vamos falar de emprego", diz um auxiliar da presidente
- Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, vai passar ao largo dos temas macroeconômicos importantes e centrar a sua campanha e a participação no debate eleitoral no que o governo fez nesses quatro anos e no viés "desenvolvimentista" da sua gestão.
"A estratégia da campanha é não discutir o que interessa ao Aécio Neves (candidato do PSDB) e ao 'senhor mercado' tais como crescimento econômico, taxa de câmbio, superávit primário. Vamos falar de emprego, temos a menor taxa de desemprego da história, e das políticas sociais", informou um auxiliar da presidente. "Temos uma eleição a ganhar" e "Dilma não quer esse debate na mídia", assinalou.
Se a economia está em recessão ou estagnação- o que ficará claro na próxima semana, quando o IBGE divulgar o PIB do segundo trimestre - isso pouco diz respeito ao eleitor se ele estiver empregado; assim como não está no leque das preocupações dos cidadãos o fato de o governo estar ou não preparando um ajuste fiscal, caso Dilma seja reeleita. "O que isso interessa à dona Maria?"
Aécio e agora Marina, ao contrário, têm avançado na definição da linha que pretendem seguir. Ambos asseguraram que vão retomar o tripé macroeconômico sustentado no regime de metas para a inflação, taxa de câmbio flutuante e superávit nas contas públicas. O tripé foi abandonado nos últimos dois anos do mandato de Dilma em nome de uma "nova matriz econômica" e da crise externa, que ora produziu "guerra cambial", "tsunami monetário", ora é responsável pela retração de investimentos, baixa atividade e alta da inflação.
Arminio Fraga, ex-presidente do BC, fala de economia em nome de Aécio Neves. O economista Eduardo Giannetti, em geral, expõe as ideias que devem nortear um eventual governo de Marina Silva. Ninguém fala por Dilma Rousseff nem há, no momento, um núcleo de assessores preparando o programa econômico do segundo mandato.
Desse pouco se sabe, a não ser que a presidente, se reeleita, ampliará as obras de infraestrutura que serão objeto de concessão ao setor privado e prosseguirá na política de concessão de subsídios e desonerações de impostos. "Ela pode, eventualmente, considerar a proposta de elevação da TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo], como sugeriu Nelson Barbosa, para reduzir o tamanho do subsídio dos financiamentos do BNDES", comentou um assessor da presidente, referindo-se à sugestão do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda de aproximar a TJLP da taxa Selic para diminuir o subsídio aos juros, que consome cerca de R$ 30 bilhões por ano.
"O momento é de generalidades", sugeriu o assessor. Dilma não vai dar seguimento ao debate "da agenda neoliberal" do Aécio Neves mas pretende marcar a sua diferença com Marina Silva, ambientalista, no quesito desenvolvimento, explicou. A candidata do PSB será instigada no debate eleitoral a dizer o que vai fazer com as usinas hidrelétricas de Belo Monte e Jirau, por exemplo.
"Você se lembra do bagre de Jirau?", indagou uma fonte do governo, em alusão às resistências de Marina, quando ministra do Meio Ambiente de Lula em 2007, a aprovar a licença ambiental para a construção das hidrelétricas do rio Madeira por causa do bagre. Foi nesse embate que Marina bateu de frente com a então ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, e saiu do governo. Essa história foi contada pelo presidente Lula em várias ocasiões.
"Como serão as concessões se Marina for presidente? No segundo mandato Dilma terá como eixo fundamental o pré-sal, com conteúdo nacional para a indústria local. A Marina é contra combustível fóssil, como fica? E o agronegócio? Ela pode ajudar o pessoal do etanol, aumentando preços dos combustíveis, mas não a agricultura do Sudeste", desfiou o auxiliar de Dilma para mostrar que o debate com a Marina "será o desenvolvimentismo versus o preservacionismo", sintetizou.
Ressaltar o pleno emprego como conquista da atual gestão coincide com os indicadores decrescentes de geração de postos de trabalho, mas não compromete a veracidade do discurso de Dilma.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem, mostram que em julho o mercado de trabalho criou somente 11.796 mil vagas, o pior resultado desde 1999 para o mês de julho que teve, assim, queda de 71,5% quando comparado a igual período de 2013. A indústria, pelo quarto mês consecutivo, teve demissões líquidas e fechou, no mês passado, pouco mais de 15 postos de trabalho. Ou seja, a situação do mercado de trabalho está mudando, mas não ao ponto de aumentar a taxa de desemprego e complicar a eventual reeleição de Dilma.
Em uníssono a presidente e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Trabalho, Manoel Dias, garantem que os indicadores antecedentes da economia já apontam para uma recuperação da atividade em julho, depois da freada em junho que o governo atribui à Copa, quando houve mais feriados e menos dias úteis. Mantega promete mais crescimento e aumento da arrecadação de tributos no segundo semestre e Dias garante que o emprego crescerá com mais vigor agora.
Um indicador antecedente relevante é o da confiança. Segundo divulgou ontem a FGV, a sondagem preliminar da indústria de transformação mostrou nova queda da confiança em agosto. O Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 1,2%, em relação a julho. Dessa vez, a despeito da contínua deterioração da situação atual, houve uma melhora nas expectativas futuras, que estavam em queda por sete meses.
Ao mesmo tempo em que Dilma afia o discurso, seus auxiliares desenham cenários. Um especialmente não deve ser descartado: Aécio e Marina podem sair muito feridos da disputa pelo primeiro turno, tornando improvável uma aliança no segundo turno. Um assessor de Dilma remete à eleição de 2002, quando o então candidato do PSDB José Serra travou disputa renhida com Ciro Gomes, do PPS e, na contenda, quem cresceu e quase entrou na disputa com o então candidato favorito, Lula, foi Anthony Garotinho, do PSB.
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