• Candidata destacou dois emissários para dialogar com o agronegócio
Cristiane Jungblut, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Como forma de neutralizar resistências de vários setores à sua candidatura à Presidência pelo PSB, Marina Silva adotou um discurso mais ameno em relação a temas sensíveis, como agronegócio e energia, a partir do momento em que seu nome foi oficializado como substituta de Eduardo Campos. Mesmo sem um documento, Marina transformou seus posicionamentos numa espécie de declaração de pontos de vista e do que deve nortear o programa de governo.
O documento formal do programa de governo será lançado na próxima sexta-feira e todos os pontos haviam sido discutidos previamente com Marina e Eduardo Campos. O documento terá 240 páginas, com uma versão light, de 20 páginas.
Apoio e financiamento
No tema mais controverso no que se refere às suas posições, o agronegócio, Marina usou tom mais brando, alegando que existem setores no Brasil preocupados em compatibilizar economia e ecologia. Ela defendeu a implementação, de fato, do Código Florestal, embora acenando para a possibilidade de mudanças.
A candidata foi além, e destacou dois de seus principais aliados - o ambientalista João Paulo Capobianco e o vereador e empresário Ricardo Young - para conversar com empresários e tentar angariar apoio e doações para a campanha. O objetivo deles é derrubar a imagem de que Marina é contra o agronegócio e se opõe a avanços tecnológicos como sementes transgênicas.
Capobianco e Young contarão com o reforço do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura, que em 2010 foi candidato à vice-presidente ao lado de Marina. Leal já estava apoiando a chapa de Campos financeiramente - doara R$ 400 mil segundo a primeira prestação de contas -, mas agora, segundo interlocutores, está "muito entusiasmado" em assumir algum papel na campanha. Seu engajamento é visto como importante para atrair a confiança do empresariado.
Amanhã, Young e Capobianco terão uma reunião em São Paulo com o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira. Junqueira afirmou ao Globo que vê a aproximação com entusiasmo.
Marina e ruralistas estiveram historicamente em lados opostos, tanto no combate ao desmatamento na Amazônia quanto em assuntos de biossegurança. Mais recentemente, o embate se deu por conta da aprovação do Novo Código Florestal. Mas, no entendimento da campanha, ganhar aliados entre o agronegócio é fundamental não apenas pelos votos e pelo apoio financeiro, mas para evitar propagandas negativas à candidata. Entre marineiros, há a percepção de que alguns ruralistas têm ajudado a disseminar o estereótipo de evangélica fundamentalista a respeito de Marina Silva. Integrantes da campanha não descartam, inclusive, escrever uma carta de intenções aos ruralistas para deixar claro que Marina não pretende ser um entrave na atividade econômica do setor.
Defesa do etanol
A conversa com ruralistas começou antes mesmo da oficialização da candidatura de Eduardo e Marina. O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues participou de conversa com a cúpula de apoiadores de Marina no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado pela ex-senadora. A campanha acredita que receberá o apoio do setor canavieiro, que tem Rodrigues como um de seus representantes, pela defesa da candidata ao etanol, considerado um combustível mais limpo do que a gasolina.
- Nos surpreendemos com a procura de apoiadores nesta semana. Vários setores do agronegócio, empresas de energia elétrica, setor financeiro já nos procuraram e demonstraram disposição de conversar. O empresariado não quer mais a Dilma (Rousseff, candidata à reeleição) e vai para quem tiver mais chance de vencê-la - afirmou Young, que até o fim do mês deverá se licenciar do cargo de vereador para se dedicar exclusivamente à campanha de Marina.
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