• Carlos Siqueira, primeiro-secretário do partido que abrigou ex-ministra, abandona posto de comando um dia após anúncio de chapa
João Domingos, Daiene Cardoso, Ricardo Della Coletta e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
Descontentes com a candidatura de Marina Silva, coordenadores da campanha presidencial do PSB deixaram nesta quinta-feira seus cargos, no dia seguinte ao anúncio oficial da nova chapa. Ex-coordenador-geral da campanha de Eduardo Campos - que morreu na semana passada em um acidente aéreo -, o primeiro-secretário da sigla, Carlos Siqueira, se demitiu dirigindo duras críticas à ex-ministra e provocando a primeira grande crise na campanha.
"Ela está longe de representar o legado de Eduardo Campos", afirmou Siqueira, que deixou a coordenação-geral depois que Marina impôs dois nomes de sua confiança na cúpula da campanha: Bazileu Margarido no comitê financeiro e o deputado Walter Feldman (PSB-SP) na coordenação. O primeiro-secretário chegou a dizer que a candidata é apenas uma hóspede na legenda. Na noite de quinta-feira, a direção do PSB anunciou que a deputada Luiza Erundina (SP), próxima de Marina, vai assumir a coordenação-geral, tendo Feldman como adjunto na função.
Porém, além de Siqueira, outros dois nomes da coordenação indicados por Campos vão deixar a campanha: o coordenador de mobilização e articulação, Milton Coelho, e Henrique Costa, economista amigo do ex-governador pernambucano que estava à frente do comitê financeiro. "Meu compromisso era com o Eduardo", resumiu Coelho.
Arrecadação. As baixas da ala próxima a Campos explicitaram a difícil convivência entre integrantes do PSB e da Rede Sustentabilidade nesta nova fase. A aposta entre partidários do ex-governador é que a ascensão de Bazileu à chefia financeira deverá afetar a arrecadação de campanha por parte do PSB. A Rede não aceita doações de empresas de armas, fumo, agrotóxicos e bebidas.
Empresa do grupo Ambev doou R$ 1,5 milhão para o comitê de Campos, que arrecadou R$ 8,2 milhões nos primeiros 25 dias de campanha, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Para Siqueira, a nomeação do chefe do comitê financeiro é responsabilidade do partido. O ex-coordenador disse que a ex-ministra quer dominar o PSB e que não tem nenhum vínculo ideológico com Campos. "Não participo de nada que tenha a senhora Marina Silva. Ela não é do PSB", afirmou. "Ela não perguntou ao partido e não agiu de acordo com um partido que está oferecendo a ela as condições que nós oferecemos."
A ex-ministra ingressou no PSB em outubro do ano passado após a Justiça Eleitoral negar registro à Rede por falta do número mínimo de assinaturas validadas necessárias. Então candidata a vice, Marina assumiu a candidatura presidencial após a morte trágica de Campos.
"Quando se está em uma instituição que é a hospedeira, ela não pode mandar nessa instituição. Marina que vá mandar na Rede dela. No PSB manda o PSB", reagiu Siqueira.
Ele disse que Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, que avalizou a escolha de Marina à candidatura presidencial, “não deve estar sabendo o que está se passando no partido”.
Na reunião de anteontem na Fundação João Mangabeira - instituto político do PSB, presidido por Siqueira -, antes de Marina ser anunciada candidata a presidente, o primeiro-secretário reagiu com irritação quando a ex-ministra disse que Feldman estava indo para a coordenação da campanha. "Você está me afastando? Você não tem noção de que fui eu que segurei esse acordo entre o PSB e a Rede. As divergências são imensas e você pensa que elas não existem."
Segundo participantes da reunião, Marina pediu desculpas: "Siqueira, você me entendeu mal", disse ela. Mas o coordenador permaneceu irredutível. Disse que o PSB corria risco até de desaparecer e que ele não mais participaria da campanha.
'Injustiça'. Informada sobre a decisão de Siqueira, Marina disse ontem que estava “muito tranquila” com sua consciência e atribuiu a situação à “gravidade do momento e ao tensionamento” causado pela morte de Campos. “Há que ter compreensão com as sensibilidades das pessoas. E essa capacidade eu tenho. Eu prefiro sofrer uma injustiça do que praticar uma injustiça.”
Para o presidente do PSB, Roberto Amaral, trata-se de “problema corriqueiro” e “pessoal” de Siqueira.
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