sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Família de Eduardo Campos quer candidatura de Marina

• Herdeira do espólio político do marido, Renata terá peso na decisão do PSB

• Primeiro integrante da família a se pronunciar, irmão do ex-governador manifesta em carta apoio à ex-senadora

Natuza Nery, Ranier Bragon - Folha de S. Paulo

RECIFE, BRASÍLIA - Principal herdeira do espólio político de Eduardo Campos, sua mulher Renata quer, segundo amigos e aliados, ver Marina Silva representando a família na cédula eleitoral como cabeça de chapa.

O único irmão de Eduardo, Antônio Campos, foi o primeiro integrante da família a se pronunciar publicamente a favor de Marina.

"Tenho convicção [de] que essa seria a vontade de Eduardo", disse em nota divulgada nesta quinta (14), um dia após a morte do presidenciável do PSB em acidente aéreo.

Além da família, dirigentes de todos os outros cinco partidos da coligação comandada pelo PSB disseram à Folha defender a indicação da ex-senadora, vice na chapa de Campos após ter anunciado em outubro a adesão ao projeto presidencial do então governador de Pernambuco.

No PSB, o nome de Marina ainda enfrenta resistências.

A Folha apurou que a decisão sobre quem substituirá Campos passará pela bênção de "dona Renata", como o marido a chamava.

Desde que recebeu a notícia da morte do marido, ela não fala de futuro eleitoral, apenas pratica o luto com a família e a romaria de pessoas que foram à sua casa, no bairro recifense de Dois Irmãos.

Renata, porém, não quer ver o trabalho de Dudu, como o chamava, perdido.

Referência emocional do marido, que a agradecia publicamente pelo apoio, ela exercia papel maior que o de mulher de governante. Tinha influência e palpitava em todas as definições tomadas pelo homem por quem se apaixonou desde a adolescência.

Campos reverenciava a mulher. Certa vez, diante de um pedido de entrevista com a potencial primeira-dama, respondeu: "Ela é um p... quadro, não uma peça auxiliar. Entende de política e tem muita sensibilidade".

Assim como o marido, a figura de Renata é reverenciada no PSB, justamente por seu papel ao lado dele. Mas ninguém aposta, por exemplo, na possibilidade de uma candidatura na vaga de vice, embora seja unânime em Pernambuco a avaliação de que ela teria força eleitoral.

Amigos e políticos íntimos que visitaram a família afirmam que a escolha de Marina como titular do partido seria chancelada por Campos.

A união do PSB em torno de Marina será um desafio, já que a aliança dos dois estava mais cristalizada entre eles do que entre outros dirigentes.

Coligação
Marina tem se recusado a falar com aliados sobre o futuro político, sob o argumento de que a hora é de luto. Mas em seu entorno a expectativa é a de que seja seguido o chamado "caminho natural".

"Campos construiu um legado programático junto com a Marina, e nós temos que tocar esse legado. É o que Eduardo gostaria que fizéssemos e é o que faremos após chorarmos e nos solidarizarmos com os familiares", disse o ex-deputado Walter Feldman, um dos principais aliados dela.

Pela lei, o PSB tem a preferência na indicação do candidato, que precisa ainda ser aprovada por pelo menos 4 dos 6 partidos da coligação.

Dirigentes das outras cinco siglas disseram ser favoráveis à escolha da ex-senadora, entre eles o PPS, o maior aliado do PSB no bloco.

"Vamos caminhar para continuar o projeto do Eduardo. Se for ela [Marina], ótimo, o PPS não vai criar obstáculo", disse o presidente da sigla, Roberto Freire.

Os dirigentes das outras quatro legendas, todas nanicas, afirmaram que defendem o nome da ex-senadora.

Já o vice na possível chapa de Marina ainda é questão em aberto. Na lista de cotados estão, entre outros, o ex-deputado Maurício Rands (PSB), primo de Renata e coordenador do programa de governo da campanha, e o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).

Colaborou Mônica Bergamo, colunista da Folha

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