sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Entrevista: Irmão de Campos pede Marina candidata

  • "Marina tem densidade para fazer o debate do Brasil"

Sérgio Roxo – O Globo

RECIFE - De participação política discreta e com atuação maior nos bastidores, o único irmão de Eduardo Campos, o advogado Antonio Campos, diz que aceita assumir a linha de frente para propagar o legado do irmão. Apesar do impacto da morte, ele acha que a definição do candidato do PSB deve ser imediata. Integrante do diretório nacional da legenda, Campos acredita que o projeto de Marina Silva de criar a Rede Sustentabilidade não é empecilho para que ela encabece a chapa presidencial.

Por que a Marina deve ser a candidata do PSB?

Pela escolha de Eduardo quando fez a aliança, na ausência dele, Marina assumiria a Presidência. Ela tem densidade política e eleitoral para fazer o debate do Brasil neste momento. Vamos colocar no debate democrático dentro da coligação que surja o nome de um vice que complemente o perfil de Marina. Assim como o perfil de Eduardo e Marina eram complementares.

E deveria ser alguém do próprio PSB?

Acho que deveria ser alguém do PSB, já que Marina representa a Rede.

Qual deve ser o perfil do candidato a vice?

Alguém que agregue valor a essa chapa, que tenha diálogo com a classe empresarial, e que tenha o apoio do grupo político de Eduardo. E que também esteja disposto a desenvolver um papel de resistência, dentro desse debate que o Eduardo, com sacrifício pessoal, travou desde 2013, resistindo aos ataques especulativos ao PSB.

O senhor aceitaria ser vice?

Não ponho meu nome em discussão. Coloco o debate de que o partido precisa definir antes do prazo legal essa questão. E que a morte de Eduardo seja não apenas o luto e o choro, mas também signifique que o Brasil que está tão descrente com a política, com o voto nulo tão forte, desperte. O Brasil precisa participar desta eleição.

Até quando isso deve ser definido?

Até meados da semana, isso vai estar definido. Vou tentar ajudar a criar um consenso dentro do partido, conversando com as lideranças. Até em respeito ao sacrifício que Eduardo fez de discutir o Brasil, vale uma reflexão do partido de que precisa dar continuidade a esse projeto.

Marina já anunciou que no ano que vem ela pretende sair do PSB para criar a Rede Sustentabilidade. Isso não complica a situação?

Acho que ela teria que fazer um acordo político com o PSB. A morte de Eduardo em plena campanha presidencial, a 45 dias da eleição, cria uma situação política nova. Essa situação expressa a necessidade de algo novo. Marina é uma força importante.

Mas ela teria que abandonar o projeto da Rede?
A questão central não é essa. A questão é a linha do programa de governo dela. Criando-se a Rede ou não, o que importa são os compromissos com o ideário do PSB. Ela pode criar um compromisso programático de alinhamento a alguns pensamentos do PSB.

Marina assumiria então o compromisso de que o PSB continuaria participando mesmo com a criação da Rede?

É, isso.

E a divergência dela sobre as alianças nos estados?

Teria que haver uma rearrumação. Essa situação, de uma certa forma, rearruma as coisas.

Por quê?

Essas costuras tinham muito a ver com Eduardo,com seu talento para unir diferentes forças. Teria quer haver uma restruturação mínima. Algumas forças adversárias não querem que Marina seja candidata e acabariam se afastando. Essas forças começam a tentar evitar a candidatura da Marina conversando com alguns setores do partido que não são hegemônicos. Isso é um desserviço ao Brasil porque teríamos uma campanha sem debater o país, sem opções, uma campanha só com reeleição e oposição.

Quem herdará o legado político do seu irmão e do seu avô?

Aprendi com meu avô Arraes que liderança política não se herda por sangue, se herda por trabalho. Eduardo construiu o seu espaço. Tem uma valorosa esposa, a Renata, que é um quadro político. Mas está fortemente impactada pela perda de Eduardo, seu companheiro desde os 13 anos, Meu sobrinho mais velho (João), que deseja entrar na política, tem apenas 21 anos. É um quadro ainda em formação. Minha mãe (Ana Arraes) é ministra do TCU e está impedia de fazer uma carreira política. Sem dúvida, estou colocando meu nome para colaborar nessa fase. A família Arraes, que tem 60 anos de política, não ficará sem sucessor. Se convocado for para colaborar na preservação desse legado, estarei pronto.

Até assumindo a candidatura a vice?

Não digo a vice, porque não a pleiteio, mas tendo uma postura mais presencial na política.

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