“Nesta eleição de 2014, deve-se acrescentar os jovens e os identificados com as manifestações de 2013, um grupo singular que capturou o imaginário dos brasileiros e que se expressa no protesto difuso.
Mas que parece ter um núcleo de consistência ao modificar, nestes últimos dias, os resultados das pesquisas eleitorais em favor da candidata recém-chegada. Já não são os pobres e excluídos de 2002 que vão protagonizar a eventual mudança, mas os jovens radicais da classe média ascendente. Em 1998, a esperança cultivada durante a ditadura finalmente triunfou. Em 2002 o ressentimento acumulado com a derrota de um projeto popular alternativo teve seu triunfo e no poder próprio sua derrota. É possível que 2014 seja o ano da frustração, dos desiludidos com as promessas não cumpridas na eleição de 2002 e com os óbvios recuos da eleição de 2010. Porém, é ele, o frustrado ativo, que vota porque recusa. Um radical do gesto, mas não da política ou da política apenas como teatro.
Nesse plano, os perigos são mais do que óbvios. Em primeiro lugar porque o eleitorado vai às urnas consciente de que programas de governo já não são programas para governar, mas programas para ter poder. Em segundo lugar porque nem os candidatos nem seus partidos têm um projeto de nação.
O que foi forte na formulação das esperanças que levaram ao fim da ditadura deixou de comparecer à política brasileira. A crua realidade das razões de Estado e a do imperativo das razões de mercado tiveram um efeito corrosivo sobre a utopia que finalmente nos aglutinara, a da esperança num mundo novo de justiça, fartura e alegria.”
*José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e autor, entre outros, de Uma sociologia da vida cotidiana (Contexto, In. Incertezas da hora. O Estado de S. Paulo/ Aliás, 24 de agosto de 2014.
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