• Racha no PSB expôs diferenças de estilo entre candidatos
- Valor Econômico
Vista de perto, não haveria o menor perigo de a campanha de Marina Silva a presidente da República dar certo. A candidatura da ex-senadora está assentada sobre um campo minado, que pode explodir a qualquer sinal de fragilidade nas pesquisas. Este não parece ser o caso, no momento. Mas como faltam ainda 40 dias para a eleição, a candidata terá de tomar cuidado com o front interno, para se mover com mais tranquilidade no front externo, no embate com os adversários.
Ainda há o que contar sobre a crise da coligação, durante o processo de mudança da chapa, episódios abafados diante da expectativa real de poder que tomou conta do PSB. O papel de Marina na arbitragem do conflito entre o pessoal do PSB e do Rede Sustentabilidade, por exemplo, duas culturas distintas cuja convivência já não era fácil sob Eduardo Campos. É fato que o PSB foi alvo de um ataque especulativo do PT, mas as diferenças poderiam ser contornadas sem estardalhaço, se o estilo da candidata fosse mais parecido com o de Campos. No limite, Marina cedeu.
No calor da crise, Marina havia designado para chefiar o comitê financeiro um de seus mais próximos auxiliares, Bazileu Margarido. Depois recuou e o PSB indicou para a função o tesoureiro do partido, Márcio França, candidato a vice-governador de São Paulo na chapa de Geraldo Alckmin, candidato do PSDB.
Nesses dez meses de convivência entre PSB e Rede Sustentabilidade, França por mais de uma vez tentou marcar um encontro formal com Marina Silva. Os dois só passaram a conversar efetivamente na semana passada, depois da explosão da crise que levou à renúncia de Carlos Siqueira, primeiro-secretário do PSB, da coordenação da campanha.
França agora tem a chave do cofre do partido e do comitê. Nenhum cheque da campanha pode ser emitido sem ter também a sua assinatura - a outra é a do "adjunto" Bazileu Margarido, o nome que Marina antes havia anunciado como chefe. Na realidade, Bazileu deve cuidar da conta pessoal da candidata. Até ontem, a situação de França resumia, talvez como nenhuma outra, a diferença entre Marina e Campos no que se refere a política de alianças.
O episódio da saída de Siqueira é pedagógico. O primeiro-secretário reagiu ao que considerou uma tentativa do grupo mais próximo a Marina de tomar conta da campanha. O incidente foi direto entre o primeiro-secretário e a candidata, mas expunha um contencioso de meses entre as duas turmas.
Depois Marina teve uma conversa particular com Siqueira, desculpou-se, mas o estrago estava feito. Junto com ele deixou a campanha o coordenador de mobilização, Milton Coelho. Em solidariedade. A sangria poderia ser maior, mas foi contida com a indicação da deputada Luiz Erundina para a coordenação de campanha.
Marina conversou com França, os dois se entenderam e pode-se esperar do candidato a vice de São Paulo um comportamento partidário. Ele já foi exigido antes em outras situações. O PSB, por exemplo, teve de engolir goela abaixo a candidatura de Fernando Haddad a prefeito, em 2012. França não gostou, mas assimilou.
Quem participa desde o início da engenharia da aliança PSB-Rede sabe o que Marina pensa da atual direção partidária e o que os atuais dirigentes pessebistas acham de fato de sua candidata. O fio que sustenta as lealdades será mais ou menos tênue de acordo com os percentuais de Marina nas pesquisas. No momento, o PSB se considera com um pé dentro do Palácio do Planalto.
O processo de mudança na cabeça de chapa do PSB à Presidência expôs as diferenças de estilo entre Marina, a nova candidata, e Eduardo Campos, o mestre de obras da terceira via. A chapa só prosperou devido à imensa capacidade agregadora de Eduardo Campos, político jovem mas com trânsito de veterano em todos os partidos, até no PMDB que elegeu como símbolo da velha política a ser varrida do cenário político nacional.
Campos tinha um controle absoluto do PSB, partido que configurou de modo a atingir um objetivo definido, a Presidência da República. Marina é ela e seu entorno, o grupo de auxiliares que aparece no organograma da campanha como "adjunto", mas que realmente deve dar as cartas a partir de agora. A aposta do PSB é na capacidade "agregadora" do candidato a vice, o deputado gaúcho Beto Albuquerque.
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) escreve para informar que não tratou com o PMDB de assuntos relacionados a financiamento de campanha de candidatos aos governos estaduais, conforme publicado na coluna de 19 de agosto. Por meio de sua assessoria, o ministro afirma que não "participou de nenhuma articulação, em qualquer nível, para o financiamento de campanha eleitoral do PMDB" e "reitera também que jamais participou de reunião, com qualquer liderança do partido sobre o tema".
A nota a que se refere o ministro reportava uma separação de funções na coordenação da campanha da presidente Dilma Rousseff: o presidente do PT, Rui Falcão, ficara com a incumbência de articular os partidos da coligação e Mercadante, restrito à coordenação das ações de governo. A queda de braço já durava algum tempo e a reunião com os pemedebistas fora a gota d'água para a mudança. A participação de Mercadante nas reuniões foi confirmada à coluna por três dirigentes do PMDB e um aliado da presidente.
Em decorrência desse episódio o vice Michel Temer reassumiu a presidência do PMDB, atendendo a uma antiga exigência de aliados próximos, a fim de dar mais representatividade à participação da sigla nas negociações com os demais integrantes da coligação da presidente da República. De volta ao cargo, Temer ampliou os critérios de partilha da arrecadação financeira entre os candidatos do PMDB aos governos estaduais. O Ceará, por exemplo, que estava fora das reuniões de que Mercadante diz não ter participado, agora está dentro.
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