• Sucessão presidencial. Enquanto senador minimizava desempenho da candidata do PSB, vice-presidente nacional do PSDB e coordenador da campanha em São Paulo publicava artigo no qual chamava um eventual governo da adversária de uma 'aventura'
Luciana Nunes Leal, Erich Decat, Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
RIO, BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, comparou o bom desempenho da adversária Marina Silva, do PSB, em pesquisas eleitorais a uma "onda" e disse acreditar que voltará ao segundo lugar isolado "dentro de 15 ou 20 dias." Marina assumiu a candidatura no lugar de Eduardo Campos, que morreu em um acidente aéreo no dia 13 de agosto.
Segundo a mais recente pesquisa Datafolha, Marina está empatada tecnicamente com Aécio na segunda colocação. A presidente Dilma Rousseff lidera a corrida ao Planalto. Hoje, o Ibope divulga um novo levantamento.
Enquanto Aécio minimizava o desempenho da adversária, políticos de expressão do PSDB atacavam diretamente a figura de Marina. Vice na chapa de Aécio, o tucano Aloysio Nunes Ferreira disse que a candidata do PSB é "uma incógnita", um "estado de espírito". Já os tucanos, disse Aloysio, não são "de improviso". "Sou contra qualquer tipo de messianismo, o partidário de Dilma Rousseff e o pessoal de Marina Silva", afirmou o candidato a vice.
Já o ex-governador, um dos vice-presidentes do PSDB e coordenador da campanha de Aécio em São Paulo, Alberto Goldman, publicou um artigo em que questiona a governabilidade de um eventual mandato de Marina. O texto, intitulado "Marina candidata. Uma aventura", foi publicado pelo Instituto Teotônio Vilela, órgão de estudos e formação política dos tucanos.
Com o crescimento da candidata pelo PSB nas pesquisas de intenção de voto, tucanos e petistas começaram a adotar uma estratégia de que a ex-ministra não tem experiência administrativa para comandar o País pelos próximos quatro anos. Questionam também a suposta dificuldade dela em dialogar com os demais poderes da República.
Caminhada. Aécio fez ontem uma caminhada na Saara, área de comércio popular do centro do Rio, e deu entrevista à rádio local. Ele tem evitado atacar Marina, mas insiste em destacar a experiência acumulada como governador de Minas Gerais e parlamentar. "A política e as pesquisas são como o mar, as ondas vêm. Ninguém no governo achava, no início do ano, que haveria 2.º turno. Depois veio a candidatura de Eduardo Campos, que seria avassaladora, o que acabou não acontecendo. Depois veio nosso avanço, consolidando o 2.º turno. Agora vem o episódio Marina. O essencial é que nossa candidatura continua a representar o mesmo que representava antes do acidente. Temos as melhores condições de fazer o Brasil crescer. Ninguém tem os quadros que temos no nosso entorno", afirmou Aécio. O tucano disse também que houve "uma reviravolta no quadro eleitoral circunstancialmente, uma modificação momentânea".
Aécio brincou ao comentar declaração do economista Eduardo Giannetti, colaborador de Marina, segundo a qual um eventual governo do PSB poderá contar com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não sei se é um bom começo para quem deve apresentar propostas e mostrar com quem vai viabilizar essas propostas. Fico honrado de ver referências positivas aos nossos quadros, mas o que vai prevalecer é o software original e quem vai governar é o PSDB com seus aliados. O núcleo que tem propostas a apresentar ao Brasil está do nosso lado", afirmou o tucano, que prometeu, sem detalhar, medidas para estimular as micro e pequenas empresas, tanto na área tributária quanto na redução do burocracia (mais informações sobre as promessas de Aécio na pág. A6).
Agenda fluminense. A visita à Saara foi a terceira atividade de campanha de Aécio no Rio em quatro dias. Os eleitores fluminenses deram a Marina Silva 31% dos votos no primeiro turno de 2010, quando a então candidata do PV a presidente ficou à frente do tucano José Serra.
Esperançosos de que as intenções de voto em Marina nas primeiras pesquisas sejam resultado da comoção causada pela morte de Eduardo Campos, aliados de Aécio no Rio disseram ontem que terão "duas ou três semanas de sofrimento, mas depois tudo se ajeita".
A caminhada de pouco mais de uma hora causou grande tumulto no coração do comércio popular do centro. A presença de pelo menos dez candidatos a deputado, com cabos eleitorais e equipes de propaganda de TV, fez com que Aécio mal conseguisse se movimentar no início da atividade. Aos poucos, o tucano se aproximou dos eleitores. Foi bem recebido por alguns, mas a comitiva também foi hostilizada por outros, que se recusaram a receber os panfletos.
Correria. Aécio começou o corpo a corpo em um ponto diferente do que havia sido anunciado, o que provocou uma correria de candidatos que ainda aguardavam o tucano enquanto ele já estava na rua, acompanhado do presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, e seus dois filhos, Rafael, deputado estadual, e Leonardo, federal, ambos candidatos à reeleição.
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