• Modelo estatístico prevê 29% dos votos para petista
- Valor Econômico
Jânio, Collor, Fernando Henrique ou Lula de saias? Neca. A luta política já se encarregou de comparar Marina Silva (PSB) a figuras da história recente, mas a ex-senadora se encaixa com dificuldade em qualquer personagem ou contexto anterior. Tanto em relação ao cenário eleitoral quanto ao apoio em eventual governo.
Pela dinâmica eleitoral, e sem juízo de valores, o desempenho de Marina lembra mais o de um Celso Russomanno (PRB) na disputa à Prefeitura de São Paulo em 2012. É uma terceira via que surge de forma fulminante, abrindo espaço entre os gigantes PT e PSDB. Lula, em 2002, era a segunda via, a oposição tradicional. O fato de o prestígio de Russomanno ter estourado como uma bolha, diante do bombardeio de petistas e tucanos, é suficiente para que os partidários de Marina tenham cautela nestes últimos 30 dias de campanha. A escassez de tempo de propaganda não impediu que Russomanno surfasse no recall de eleições anteriores e na sua exposição como apresentador de TV. Mas o atrapalhou quando precisou se defender dos ataques massivos de PT e PSDB.
Duas diferenças, no entanto, contam a favor da ex-senadora. Primeira: a equipe de Marina tem mais qualidade do que a de Russomanno - o que não quer dizer muita coisa. O desastre da proposta que derrubou o deputado federal - quem mora longe pagaria mais pelo transporte público - foi inventada por um colaborador lotado no segundo ou terceiro escalão da prefeitura.
Russomanno insistia em não debater propostas e, quando o fez, abriu a guarda para ser nocauteado. Em contraste, Marina é a primeira a apresentar seu programa de governo e, por enquanto, a polêmica em torno das promessas para a comunidade LGBT parece não ter o mesmo potencial de estrago. Russomanno manteve a proposta até o fim. Marina recuou e apagou o incêndio em menos de 24 horas.
Segunda diferença: a estratégia de Marina é a de se apresentar como o amálgama que pode juntar os antípodas PT e PSDB. É um discurso ecumênico, de olho nos votos nas urnas e em apoios ao governo, no caso de vitória. Russomanno buscou o confronto.
A semelhança entre os dois é o que lhes dá (ou teria dado) vantagem sobre os adversários. No segundo turno, Russomanno provavelmente teria vencido Haddad (PT) ou Serra (PSDB), mas sua queda foi tão grande que ficou fora da segunda rodada. Se sobreviver aos torpedos de petistas e tucanos, Marina tende a amealhar os votos da primeira ou da segunda via.
Do outro lado das comparações, pela lógica da coalizão de governo, é tentador equiparar Marina a presidentes que tiveram minoria no Congresso. Jânio renunciou. Collor foi impedido. O primeiro abandonou o cargo num contexto de polarização internacional, de Guerra Fria, e quando havia maior interferência dos militares na política brasileira. O segundo desprezou os partidos e confiou excessivamente no poder da Presidência em oposição ao Congresso. Vinte e cinco anos depois, o clima de responsabilidade, nos dois poderes, é maior - o que não significa que a luta política facilitará a governabilidade.
De um lado, os adversários de Marina pesam a mão na estratégia do medo. De outro, a candidata do PSB cria um mundo colorido. Prefere se comparar a Itamar Franco para defender um governo de pacto nacional, onde todos são instados a ajudar. Isso geralmente ocorre em momentos de crise institucional, mas não de normalidade política. O que está em curso é uma possível mudança do padrão de competição pela Presidência. Se a segunda (PSDB) e terceira (PSB) vias se juntarem numa coalizão, o padrão pode se transmutar da polarização entre petistas e tucanos para uma lógica mais elementar: todos contra o PT (ou o PT contra todos).
As pesquisas Ibope e Datafolha de ontem são um alívio para Dilma, diante dos rumores de que Marina já estaria à sua frente. Deu 37% a 33% (Ibope) e 35% a 34% (Datafolha), num empate técnico. No entanto, a depender da estimativa dos cientistas políticos Lucio Rennó e Mathieu Turgeon, da Universidade de Brasília, Dilma ficaria abaixo desse patamar.
De acordo com um modelo estatístico elaborado pelos pesquisadores, a petista alcançaria 29% dos votos no primeiro turno.
O modelo só estima resultados de candidatos governistas e é inspirado em similares aplicados às eleições dos EUA e da França. Para contornar o número reduzido de disputas presidenciais no Brasil (seis), os pesquisadores utilizam dados estaduais, o que aumenta a amostra para 135 casos. As duas principais variáveis são a avaliação do governo federal nos Estados, a três meses da eleição, e o crescimento do PIB do segundo trimestre do ano eleitoral em relação ao do ano anterior, também nos Estados.
O percentual, diz Rennó, o surpreendeu, mas está baseado em indicadores que, aplicados às eleições desde 1994, conseguem estimar o resultado com uma diferença, em média, de 3,43% - ou seja, semelhante à margem de erro das pesquisas eleitorais.
A eleição de 2006, com Lula, gera a pior estimativa, já que a previsão fica 5,5% acima da votação obtida pelo ex-presidente. Considerando essa diferença, Dilma poderia atingir entre 34,5% e 23,5% - o que o pesquisador avalia ser bem improvável. De todo modo, na melhor das hipóteses, a presidente hoje estaria acima de seu teto. "Pela previsão de 29%, Dilma não atingiu seu piso e o resultado pode ser pior", afirma Rennó.
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