• Para Dilma, seria melhor que país estivesse crescendo mais depressa
Thiago Herdy – O Globo
BELO HORIZONTE- Em discurso para empresários e dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ontem, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, admitiu problemas no ritmo de crescimento da economia e na política industrial e disse que, se reeleita, fará mudanças em sua equipe de governo e em algumas políticas públicas.
É a primeira vez, na campanha eleitoral, que a presidente admite realizar mudanças nos quadros que integram o governo. Dilma admitiu considerar a situação atual da indústria "complexa", e disse que gostaria de ver o Brasil "crescendo em ritmo muito mais acelerado". Mas ela também defendeu a política industrial e reafirmou o compromisso de criar um conselho de desenvolvimento vinculado diretamente a ela.
- É possível que alguns de vocês, na atual conjuntura, quando a incerteza do cenário internacional se mistura com o debate eleitoral, questionem a eficácia dessa nossa política. Mas, apesar de respeitar essa posição - acho que em um país democrático como o nosso posições têm que ser respeitadas - eu gostaria que o Brasil tivesse crescendo em ritmo muito mais acelerado - admitiu Dilma aos empresários.
- Devemos fazer esse balanço não para ficarmos satisfeitos com o que já fizemos, mas para continuarmos a fazer. Estive na CNI há um tempo atrás e declarei que considerava tão importante a política industrial e de desenvolvimento em geral, que faria um Conselho de Desenvolvimento ligado diretamente à Presidência. Reitero esse meu compromisso. Obviamente, novo governo, novas e, necessariamente, atualização das políticas e das equipes.
Dilma admitiu que ainda há muito a fazer e disse que não quer dar a impressão de que acha que tudo já foi feito em seu primeiro mandato. Ela gastou 11 dos 27 minutos de seu discurso na abertura da Olimpíada do Conhecimento - evento realizado por empresas do Sistema S e institutos federais de tecnologia - para defender as políticas de seu governo, recorrendo a texto preparado por assessores.
A presidente defendeu medidas de sua administração, como políticas de compras públicas, baseada em conteúdo local, e também a concessão de crédito subsidiado para a indústria.
- Me pergunto o que seria se nós não tivéssemos tomado medidas na área industrial e no reconhecimento que a indústria é estratégica para o país - afirmou ela.
Mais críticas a Marina
Sem citar diretamente a candidata Marina Silva (PSB), com quem está tecnicamente empatada nas pesquisas, Dilma criticou o programa de governo da adversária, que prevê incentivo ao crédito voluntário, oferecido por bancos privados, no lugar de subsídios dados atualmente pelo Tesouro Nacional, por meio de bancos públicos. Para Marina, a nova proposta seria uma forma de fazer com que o governo deixe de ser "controlador para tornar-se servidor dos cidadãos".
- Muito me preocupa a questão dos bancos públicos, pois eles cumprem papel muito importante - rebateu Dilma, citando "condições e prazos" oferecidos pelo BNDES no setor industrial, pelo Banco do Brasil, no setor agrícola, e pela Caixa Econômica Federal, nos programas de habitação.
- Se não não tiver crédito subsidiado, crédito de longo prazo, crédito que assegure as condições de expansão, teremos um problema muito sério - disse Dilma.
Para a presidente, "é muito importante ter os bancos privados fazendo isso também". No entanto, segundo ela, "enquanto não fizerem nas mesmas condições que os bancos públicos fazem, não há justificativa para retirada dos bancos públicos dessa atividade".
Em ataque indireto a Marina Silva, que defende diminuir o poder dos bancos públicos, Dilma disparou:
- Não há condição de fazer habitação popular a preço de mercado. A pessoa que recebe R$ 1,6 mil não tem como comprar apartamento ou casa de R$ 60 mil. Ou ela tem uma complementação de sua prestação, ou ela não compra.
Presidente da CNI defende
No evento, a presidente foi tratada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, como se já estivesse reeleita.
- Aproveito para convidar a presidente Dilma para fazer a abertura do WorldSkills no ano que vem, em 2015 - disse Andrade, mencionando o maior torneio de educação profissional do mundo, que será realizado em São Paulo.
Andrade recebeu aplausos da ala petista, entre eles o candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel, e do coordenador da campanha presidencial no estado, o ex-ministro Walfrido Guia.
Em seu discurso, Robson Andrade defendeu Dilma:
- Temos absoluta certeza de que os investimentos que a senhora tem feito, como o Pronatec, com o apoio que o governo deu através do BNDES, de R$ 1,5 bilhão, ajudam na construção de centros de tecnologia e centros de inovação no país.
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