- O Globo
Há fatos estranhos nesta eleição. A presidente Dilma acusa a candidata Marina de ser um novo Collor, tendo Collor na sua base de apoio. Dilma e o candidato Aécio Neves falam da falta de base política de Marina, mas o PT e o PSDB precisaram da ajuda dos outros partidos para governar. Marina diz que governará com os melhores, sabendo que se for eleita terá que formar coalizão.
No Brasil é assim: forma-se uma coligação para disputar a eleição, mas nenhum presidente da história recente conseguiu maioria no Congresso só com os partidos que o apoiaram durante a campanha. Por isso, forma-se a coalizão de governo, que só pode ser negociada depois das eleições, quando se sabe a bancada de cada partido. Qualquer um que governar terá que se unir a outros, inclusive a presidente Dilma, se o eleitor lhe der mais um mandato. Isso é verdade também para Marina, que afirma que governará com as melhores pessoas.
O que a candidata Marina está dizendo, que faz sentido, é que fará isso em torno de uma coalizão programática. É normal em vários países. O anormal é ser sempre o toma-lá-dá-cá que chegou a exageros no Brasil nos últimos anos. Mesmo que os representantes se unam em torno de ideias, é da natureza da política que coalizões diferentes se formem, dependendo do tema. Há assuntos que dividem o Congresso no eixo federativo, como a reforma tributária, por exemplo. Há outros em que as clivagens se dão no eixo partidário. Para governar, é preciso negociar sempre. E, muitas vezes, ceder.
A cobrança religiosa sobre Marina está curiosa. Tudo se passa como se a Bíblia fosse um livro que estivesse no índex brasileiro e houvesse algum artigo da Constituição estabelecendo que só católicos - ou os que se dizem - possam aspirar à Presidência do Brasil. Nas últimas décadas, o IBGE tem registrado um crescimento de outras religiões na população brasileira; o país será cada vez mais diverso também nesse ponto. O importante não é a fé - ou agnosticismo - do candidato, mas sim o caráter laico do Estado brasileiro, o que já está assegurado pela Constituição. Como a pergunta sobre religião não é feita a outros candidatos, além da Marina, isso soa como intolerância religiosa.
O Brasil está vivendo uma eleição de resultado imprevisível, as mudanças nas intenções de voto estão mostrando grande volatilidade. Ainda falta um mês para o primeiro turno e isso é muito chão. Nenhum dos três candidatos competitivos é vencedor ou perdedor de véspera. A presença do candidato à Presidência na disputa é importante também para o desempenho dos demais candidatos do partido a outros cargos. O risco de ficar fora do segundo turno - como é o caso de Aécio neste momento - não significa que ele esteja prestes a renunciar. Eleição só se ganha ou se perde na urna. Nunca é demais lembrar que a corrida eleitoral é um filme e o que se vê a cada pesquisa de intenção de voto é o retrato.
Dilma faz afirmações completamente descoladas da realidade. Afirma que a inflação é zero, quando ela está no teto da meta, em 6,5%. Diz que o país não cresce por causa da crise internacional e cresce menos do que os países onde os abalos ocorreram. Nada informa sobre como corrigirá os problemas da economia. Acusa os seus oponentes de prepararem aumento de impostos, quando em seu governo a carga tributária subiu de 34% do PIB para 36% em três anos. No período Lula, havia subido de 32% para 34%. No governo do PSDB também houve aumento de carga tributária, de 28% para 32%. O contribuinte precisa do compromisso dos partidos de que essa elevação constante dos impostos não vai continuar. É desse conforto que todos precisamos.
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