A persistência do crescimento de Marina Silva até o final de agosto, em contraponto a uma queda da taxa de intenção de votos de Dilma Rousseff e a uma forte erosão na de Aécio Neves – com provável confirmação em novas pesquisas a serem divulgadas hoje à noite e quinta ou sexta-feira – converteu-a em alvo central (a partir de debate de anteontem à noite promovido por SBT, Jovem Pan, Folha e UOL) de duros ataques da campanha reeleitoral da presidente. Que já incluíram, no horário gratuito de ontem, a comparação dela com Jânio e Collor, como exemplos de governos inviáveis. Virada tática do comando da campanha (que só seria adotada com respaldo do ex-presidente Lula) que certamente se articulará com acusações à concorrente de traição ao seu passado de petista em face das propostas político-econômicas assumidas por ela. Semelhantes ou próximas às do tucano Aécio Neves. Cuja candidatura tentará recuperar competitividade pela coerência e consistência do que defende e propõe nesse campo e pela governabilidade alternativa à do petismo que poderá, ou poderia, garantir.
Essa virada tática envolverá também a denúncia de “traição” de Marina aos beneficiários dos programas assistencialistas federais, a grande base de sustentação eleitoral do PT. Mas a eficiência dos diversos ataques dirigidos a ela dependerá da superação de um conjunto de obstáculos sociais, políticos e econômicos. Entre os dois primeiros, a expressiva capitalização lograda por Marina de parcela majoritária do descontentamento da população com o sistema político e do oposicionismo ao governo (à ineficiência e à corrupção). Em prejuízo também de Aécio mas agravado em relação a Dilma pelo amplo desgaste do petismo nas cidades médias e de maior porte. E tudo isso potencializado pela estagnação da economia, de par com elevados juros e inflação e risco crescente de perda de empregos.
Neste cenário, tão surpreendente e sensivelmente alterado no meio de agosto, temos à frente vários desdobra-mentos possíveis. Destaco dois. Mantido o crescimento nas pesquisas, Marina resistirá bem, ou não, ao tiroteio do governo, da campanha de Dilma, e do lulopetismo? E Dilma poderá reverter sua alta taxa de rejeição, retomando a vantagem que perdeu na disputa do 1º turno e equilibrando a do 2º? Cabendo prever algumas possibilidades e implicações desse cenário. Dilma poderá ser compelida por Lula a trocar logo o ministro da Fazenda (que cumpre estritamente suas ordens) ou a anunciar um novo como tentativa de recompor as deterioradas relações com o mercado, in-terno e externo. Por outro lado, uma ainda possível recuperação da candidatura de Aécio, mesmo insuficiente para devolver-lhe competitividade no 1º turno, conferirá a ele e à direção do PSDB papel significativo no apoio da oposição a Marina no 2º turno e para a montagem de um governo que ela encabece, bem como no relacionamento do Executivo correspondente com o Congresso. Papel que, em caso contrário, deverá caber a governadores eleitos pela oposição e a um comando renovado do PMDB, com peso grande dos dissidentes atuais (como os da Bahia, do Rio, do Ceará), num quadro de enfraquecimento das representações do PT no Legislativo federal, cuja perspectiva já está afastando o partido da disputa da próxima mesa da Câmara dos Deputados. E a derrota de Dilma antecipará movimento pela volta de Lula em 2018, fator adicional para a aposta do PT no fracasso de uma gestão de Marina.
Outra boa mudança de Marina
Ademais da firme defesa que tem feito do chamado tripé da estabilidade macro-econômica, legado pelo governo FHC, Marina passa a propor amplo realinha-mento de objetivos e parcerias da política externa terceiro-mundista do petismo, iniciada pelo ex-presidente Lula e aprofundada por sua sucessora. Mudança as-sim tratada em editorial do Valor, de ontem:
“A política externa da coligação (pós-Marina Silva) é explícita ao sugerir a busca de acordos comerciais com os Estados Unidos, um anátema das gestões do PT nos últimos 14 anos. A forma de romper com o engessamento do Mercosul seria estabelecer a negociação ‘em dupla velocidade’ - cronogramas distintos de adequação aos termos dos acordos firmados. A exigência de negociação conjunta do bloco, que seria um empecilho para que o Brasil se libertasse de sócios menos dispostos à abertura, é ‘passível de pronta revogação’, pois consta apenas de uma resolução do Conselho de Ministros de Relações Exteriores. A coligação entende que as relações com os EUA ‘carecem de atualização’, e se diz deter-minada a ‘desenvolver um diálogo maduro, equilibrado e propositivo com Washington, que não dramatize as diferenças naturais’. Acordos com UE e EUA estarão no radar principal, acoplados a uma política industrial menos protecionista e voltada para a integração nas cadeias produtivas globais.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário