sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Celso Ming - A economia de Dilma 2

- O Estado de S. Paulo

A presidente é a mesma, mas, decididamente, Dilma 1 não é igual à Dilma 2. As equipes econômicas bem diferentes uma da outra apontam para uma política econômica também diferente.

Não é à toa que, desta vez, passou a ser necessário assegurar um período de transição entre as duas administrações. Este cumpre a função das eclusas nas barragens, quando uma embarcação precisa passar de um nível d’água a outro.

A apresentação e os primeiros pronunciamentos da nova troica econômica (Joaquim Levy indicado para o Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa para o Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central) deram ênfase ao saneamento das contas públicas, a ser obtido sem solavancos, de maneira relativamente gradual.

A poupança do setor público (superávit primário) prevista para 2015 é relativamente baixa, de apenas 1,2% do PIB (cerca de R$ 70 bilhões). Deve aumentar para 2% do PIB nos anos seguintes.

Não é o aperto asfixiante que vinham temendo segmentos de esquerda, os mesmos que se manifestaram contra o que entenderam como excessiva ortodoxia da nova equipe econômica. Resta saber se esse gradualismo não comprometerá um efeito desejado: a recuperação da confiança seriamente abalada pelos experimentos destes últimos quatro anos a que foi submetida a política econômica.

A preocupação mais importante parece ser agora garantir solidez ao ajuste, qualidade que não se viu neste primeiro mandato de Dilma. Tombini fez referência a isso quando avisou que a maior firmeza na área fiscal contribuirá para empurrar a inflação para o centro da meta, tarefa que o Banco Central não cumpriu em consequência da forte deterioração das contas públicas.

Embora não tenha sido mencionado por nenhum dos integrantes da nova equipe, um dos mais importantes objetivos imediatos da nova política econômica será evitar o rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pelas agências de avaliação de risco. Se esse rebaixamento acontecesse, o mercado para os títulos brasileiros se estreitaria e as despesas com juros aumentariam, o que, por si só, implicaria novo impacto ruim para as contas públicas.

O próximo ministro da Fazenda não anunciou quais serão as primeiras providências que deverão ser adotadas para dar partida ao ajuste. Mas ficou subentendido que foi abandonado o diagnóstico de que o problema da economia brasileira é a demanda fraca a ser ativada pela disparada das despesas públicas, sem contrapartida no aumento da oferta.

Foi abandonado porque fracassou e esse fracasso se deveu à aplicação de um keynesianismo tosco, como se qualquer modelo, ainda que consagrado no passado, pudesse ser implantado às custas do desleixo nas contas públicas. É uma pena que tenha sido assim. Esse resultado pode ter adiado, indefinidamente, a utilização de diretrizes keynesianas no País.

Certas reações contrárias à nomeação da troica Levy, Barbosa e Tombini, reclamam de que a ênfase a ser dada à arrumação das contas públicas produzirá recessão.

Como já observado acima, esta é uma preocupação improcedente, diante do gradualismo a ser adotado agora. A economia já está em recessão ou, se não isso, pelo menos se arrasta a esse ritmo exasperante quase parando a ser conferido nesta sexta-feira com a divulgação do PIB do terceiro trimestre.

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