• Oposição afirma que escolha de Joaquim Levy é "estelionato eleitoral"
Cristiane Jungblut, Isabel Braga – O Globo
BRASÍLIA - A oposição fez duras críticas à escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, classificando-a de "estelionato eleitoral". O senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado à Presidência da República, disse que a presidente Dilma "mentiu durante a campanha eleitoral" e que o governo dela é "refém de contradições". Já os líderes do PT e do PMDB no Senado elogiaram as indicações de Levy e de Nelson Barbosa para o Planejamento, destacando que os dois darão credibilidade à equipe econômica.
- Hoje fica evidente que ela (Dilma) sabia estar mentindo ao país durante toda a campanha. A presidente escolheu novos nomes para área econômica do governo, tentando acalmar o mercado e recuperar a credibilidade perdida. Mas protagoniza no Congresso mais um violento ataque à credibilidade do país ao afrontar a Lei de Responsabilidade Fiscal, alterando as metas de superávit, e usando como moeda de troca os cargos públicos de sempre. Qual é o verdadeiro rosto do novo governo Dilma Rousseff? Refém de tantas contradições, o governo corre o risco de não ter nenhum - disse Aécio.
"Dilma contraria seu discurso"
Para a oposição, os nomes escolhidos mostram que a Dilma da eleição era uma, e a que vai comandar o país é outra.
- É mais um capítulo da série estelionato eleitoral. A presidente Dilma contraria seu discurso de campanha. Condenou seu adversário Aécio Neves, que anunciou um banqueiro, o competente Arminio Fraga, como seu ministro da Fazenda, e traz um executivo do banco Bradesco para assumir a pasta. Levy será um ministro claramente ortodoxo, deixando os petistas arrepiados - criticou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que Levy e Barbosa têm credibilidade junto ao mercado e aos partidos políticos. Afinado com o Palácio do Planalto, o petista disse que eles farão o ajuste necessário, mas que isso é apenas "uma etapa" e não um fim em si mesmo, como durante a gestão tucana.
- Foi um gol de placa. Foi muito importante a fala deles no sentido da necessidade do ajuste, mas entendendo isso como uma etapa necessária para a retomada do crescimento. A nossa diferença para os tucanos é que, para eles, o ajuste fiscal é um fim e não uma etapa. E nossa receita será bem menos amarga do que a deles - disse Costa.
Já o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), fez questão de dizer que os indicados têm credibilidade no mercado, mas alertou para os momentos difíceis da economia. O líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) afirmou que só depois que a equipe econômica escolhida mostrar seu trabalho será possível avaliar as escolhas feitas por Dilma.
Para o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), o anúncio de que haverá aperto nas contas públicas nos próximos anos e rigor contra a inflação são importantes, mas isso não significa mudança nos rumos do governo para garantir empregos, renda, manutenção dos programas sociais e dos direitos dos trabalhadores.
A nova equipe econômica será um dos temas centrais da reunião do diretório nacional do PT hoje em Fortaleza. A expectativa é que os dirigentes apoiem a escolha da presidente, mas que, no documento de resoluções, afirmem o compromisso da legenda com políticas desenvolvimentistas, com os programas sociais e a manutenção do emprego, eixos do discurso eleitoral da presidente reeleita.
Críticas da esquerda
A presença de Dilma no encontro foi vista pelos petistas como um sinal de prestígio do partido, que teme perder espaço no novo governo. A participação da presidente também deve amenizar as críticas internas à escolha dos ministros. Vice-presidente nacional do partido e organizador da reunião em Fortaleza, o deputado José Guimarães (PT-CE) saiu ontem em defesa de Levy. Para ele, o corte de gastos públicos anunciado pelo novo ministro, que estabeleceu uma meta fiscal de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), é necessário porque 2015 será um ano "duro".
Esta semana, setores da esquerda divulgaram um abaixo-assinado contra a seleção de ministros para o novo mandato de Dilma. O documento critica duramente Levy e a possível futura ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), afirmando que "sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas". Guimarães disse não teme perder esses apoios.
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