- Folha de S. Paulo
Para todos os efeitos, o segundo mandato de Dilma Rousseff começou nesta quinta-feira chuvosa com a apresentação do trio que conduzirá a economia.
O tom monocórdico de Joaquim Levy pontuou sua mensagem central: previsibilidade, respeito a metas mais duras e transparência. Parecia Aécio Neves na campanha. Como ele mesmo disse, se terá autonomia para lograr êxito, isso se verá no dia a dia, já que Dilma até aqui ditou o rumo da política econômica.
O fato de que os ministros são indicados, já que a carcaça da gestão anterior seguirá em decomposição pública nesta transição inusitada, gera um certo desconforto. Sempre haverá riscos para gêmeos xifópagos na hora da separação.
Mas se alguém tinha dúvida do caminho pretendido, até um simbolismo involuntário na posse contribuiu para suspendê-la. Nelson Barbosa (Planejamento), mais identificado com o PT, usava uma gravata apropriadamente vermelha. Já Levy envergava um azul-PSDB no peito.
O novo chefe da Fazenda indicou um roteiro bem tucano, fiscalista, fazendo concessões ao gradualismo ecoadas pelos pares (ah, Alexandre Tombini, do BC, usava uma gravata convenientemente acinzentada).
Agora, Dilma tentará aparar as arestas políticas em casa, indo ao encontro do PT nesta sexta. É um começo, embora os embates com o PMDB e a base que lhe dificultam a vida, além dos sortilégios da Lava Jato, sejam muito mais desafiadores.
Ainda que "intelectuais" (aspas obrigatórias) ligados ao PT tenham reclamado da escolha de Levy e da provável ida de Kátia Abreu para a Agricultura, o que se espera é a ordem unida típica da sigla pós-2003.
Fará um discurso à esquerda, dizendo que ajuste fiscal não é arrocho, e a plateia aplaudirá, talvez com uns gritos de guerra contra a mídia.
Se algo sair do roteiro, porém, Dilma será pressionada a buscar mais algumas gravatas vermelhas.
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