• Com cautela e em termos ainda genéricos, novos ministros lançam manifesto de mudança
- Folha de S. Paulo
O clima não era de fim dos tempos nem de fim de mundo, mas os novos ministros da economia anunciaram o fim de um mundo numa entrevista coletiva com jeito de tempos de crise.
Enfatizando com razão que não há crise nem sangria desatada, Joaquim Levy e Nelson Barbosa, no entanto, anunciaram a operação desmanche da política econômica vigente mais ou menos desde 2010 e, sem dúvida, da sua versão mais extremada, que se viu a partir de 2012.
Caso a presidente resolva revogar esse programa de mudanças, ainda genérico, mas de sentido claro, vai arrumar encrenca para si própria e abalar humores econômicos.
Houve cautela, manifesta até no fato de Levy, Barbosa e Tombini lerem suas apresentações, a fim de evitar deslizes e desafinações. Mas a mensagem foi inequívoca.
Dizer que vai haver superavit fiscal a partir de 2015, miudinho, o possível, e saldo nunca inferior a 2% do PIB a partir de 2016 foi pouco e óbvio. Levy, em especial, foi curto e, se não foi grosso, foi denso, com um recado em cada sentença.
A fim de evitar o crescimento da dívida pública, "o superavit primário do setor público deve alcançar 2% do PIB ao longo do tempo, desde que não haja ampliação do estoque de transferência do Tesouro para os bancos públicos".
Não resta muita dúvida. A mensagem principal é "vamos dar um jeito de evitar que o governo continue a se endividar a fim de emprestar dinheiro caro a taxas baratinhas para os bancos públicos" (que reempresta tais fundos para empresas, como o faz o BNDES, mas não apenas). A mensagem secundária é, caso persistam tais empréstimos, o superavit terá de ser maior.
Maior e preto no branco. Tanto Levy quanto Barbosa prometeram claramente que acabou a era das maquiagens das contas do governo.
De passagem, Levy pediu apoio do Congresso para reformas microeconômicas, coisa que praticamente caíra em desuso nos governos petistas desde 2006 ou 2007. Barbosa disse que vai se dedicar, entre outras tarefas, a limpar a burocracia que emperra os negócios do setor privado. Ambos afirmaram que vão dar um jeito de incentivar o investimento privado e o financiamento desses novos empreendimentos no mercado de capitais (de novo, menos BNDES).
Ou seja, promete-se um programa de reformas, mudanças institucionais que removam empecilhos para o crescimento de médio a longo prazo.
"Reformas" não é um termo de sentido unívoco e não implica necessariamente mudanças "liberais". Mas sempre redundam em conflitos, pois mexem em vespeiros de interesses entrincheirados.
Não vai haver pacote, ressaltaram e enfatizaram. "Não estamos aqui em nenhuma agonia, (a transição) é uma maneira boa de a gente lidar com os desafios do novo governo", disse Levy. Mas vai haver, promete-se, desmanche da política econômica de curto prazo de Dilma 1 (gastos do governo, juros, inflação, crédito). Note-se que política de curto prazo, de estabilização, é apenas uma parte e/ou um momento das políticas econômicas.
De qualquer modo, os novos ministros fizeram um "manifesto dos economistas pela mudança", que não será pequena, se levada a cabo.
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