• Presidente tenta conter insatisfação no PT com suas escolhas para o ministério
• Equipe econômica com perfil conservador e indicação de defensora do agronegócio foram alvo de críticas na sigla
Andréia Sadi, Marina Dias e Catia Seabra - Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, FORTALEZA - Criticada por formar uma equipe econômica de perfil conservador e escolher uma representante do agronegócio para seu novo ministério, a presidente Dilma Rousseff planeja fazer acenos à esquerda do PT para tentar tranquilizar as bases de seu partido.
Nesta sexta-feira (28), a presidente participará de um encontro do diretório nacional da legenda em Fortaleza e fará um discurso para agradecer o apoio do PT e reafirmar seu compromisso com as políticas sociais adotadas durante os governos petistas.
Confirmado nesta quinta (27) como próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy é visto nos bastidores do PT como um economista liberal e contrário à política de valorização do salário mínimo, que tem contribuído para aumentar as despesas do governo.
Aliados de Dilma também estimularam nas redes sociais manifestações contrárias à indicação da senadora e colunista da Folha Kátia Abreu (PMDB-TO), defensora do agronegócio em seus embates com ambientalistas e indígenas, para o Ministério da Agricultura.
Nesta quinta, na 3ª Conferência Nacional de Economia Solidária, em Brasília, um grupo na plateia entoou "Kátia Abreu não!" quando Dilma deixava o local.
Integrantes da cúpula petista dizem que não haverá animosidade no encontro de Fortaleza, que irá até sábado, mas o partido pretende cobrar de Dilma a indicação de ministros comprometidos com bandeiras históricas, como a regulação da mídia e a reforma do sistema político.
Um documento preliminar elaborado pelo secretário-geral do PT, Geraldo Magela, afirma que a sigla precisa ser "protagonista" diante da necessidade de reformas. Nem que, para isso, tenha que enfrentar partidos aliados.
"O PT deve impulsionar o processo de mudança que o país exige. Isso poderá nos levar a confrontos e enfrentamentos com partidos aliados no Congresso e até a criar dificuldades para a composição parlamentar. Tais dificuldades não podem impedir o PT de lutar por essas mudanças", diz o texto.
A proposta afirma que a eleição de 2018 dependerá do desempenho do segundo mandato de Dilma.
O documento preliminar afirma ainda que o PT deve honrar seu compromisso de combate à corrupção. Citado nas investigações da Operação Lava jato, o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, estará no evento.
"O PT não dará a trégua que deu a Dilma no primeiro mandato", disse um dirigente do partido, que pediu para não ser identificado. "Agora é preciso fazer alguns acenos para a nossa militância."
Para os petistas, a escolha de Joaquim Levy não enfrentará resistência do partido se a presidente escolher para outras pastas quadros comprometidos com as reivindicações do PT, mesmo que não sejam filiados à legenda.
Dilma tem demonstrado que está disposta a refazer pontes com o partido. Nesta quinta, participou de um evento sobre economia solidária a pedido de Gilberto Carvalho (Secretaria Geral).
Na quarta (26), recebeu o teólogo Leonardo Boff, que assinou manifesto divulgado nesta semana por intelectuais de esquerda que criticam a entrada de Levy e Kátia Abreu no governo.
O PT reconhece que, para abrir lugar no ministério para outros partidos que a apoiam no Congresso, a presidente terá que reduzir o espaço ocupado pelos petistas.
Mas Dilma já indicou que lideranças representativas de alas importantes do PT ficarão encarregadas da negociação das bandeiras do partido.
Colaborou Flávia Foreque, de Brasília
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