Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O PT deve avalizar a nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff e o ajuste fiscal anunciados na tarde de ontem, muito embora o ministro escolhido para a Fazenda, Joaquim Levy, não tenha se comprometido com o "gradualismo" esperado pela cúpula do Partido dos Trabalhadores. O PT tem demandas mais urgentes para tratar com a presidente, como a escolha de seus ministros para o novo mandato. O espaço destinado ao partido na Esplanada dos Ministérios deve encolher.
As tendências à esquerda do PT criticaram a indicação de Levy, mas a avaliação majoritária é que Dilma, depois de uma vitória apertada na eleição, precisava abandonar a "nova matriz macroeconômica", fazer uma inflexão à ortodoxia e reaproximar-se de setores desavindos do governo.
A presidente não perguntou a opinião do PT sobre os nomes escolhidos, mas vai à reunião do Diretório Nacional neste fim de semana na capital do Ceará, Fortaleza. Dilma deve defender a nova equipe e o ajuste fiscal anunciado.
Deve encontrar plateia receptiva. Embora não tenha se comprometido com o gradualismo, Levy assegurou que não haverá surpresas nem pacotes na política econômica. O ministro indicado deixou claro que o avanço nas políticas sociais depende da estabilização e da retomada do crescimento.
O discurso que a ex-ministra da Casa Civil e senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pronunciou tão logo o Palácio do Planalto confirmou os nomes de Levy, na Fazenda, Nelson Barbosa, no Planejamento, e a recondução de Alexandre Tombini no Banco Central, resume bem o sentimento partidário.
Gleisi situou Levy numa linha do tempo de governos petistas. "É uma pessoa séria, capacitada, firme, rigorosa com as contas públicas", disse Gleisi, "mas acaba de anunciar que jamais vai fazer um pacote e tem sensibilidade com o social". Ajuste por ajuste, lembra-se a senadora, a presidente Dilma fez um corte de R$ 50 bilhões, em 2011. Ou seja, é algo já incorporado na rotina do PT.
O argumento leva à uma conclusão: não ha contradição na escolha de Levy porque ele já estava no PT no governo Lula, quando ajudou a "construir as bases desse governo de sucesso: de enfrentamento da fome, da miséria, e de políticas sociais que são referenciais no mundo", como diz Gleisi.
Nome mais palatável para a esquerda do PT, que preferia vê-lo na Fazenda, o economista Nelson Barbosa vai comandar um Ministério do Planejamento vitaminado. Além de suas atuais atribuições, o Planejamento vai a partir de agora tratar de concessões, do Programa de Aceleração do Crescimento, do Minha Casa, Minha Vida e das Parcerias Público-Privadas (PPPs).
Barbosa parece afinado com Levy. Segundo o ministro indicado do Planejamento, a "inclusão social depende da estabilização". Ou seja, a velocidade do avanço das políticas sociais estará condicionada ao equilíbrio da economia.
As medidas provavelmente serão mais duras do que espera o PT. A nova equipe anunciou que vai rever o Orçamento para 2015, mas para alcançar a meta de 1,2% de superávit, em 2015, terá de reduzir alguns gastos sociais, como aqueles com o seguro desemprego. Não há muito o que o PT possa fazer.
Para dirigentes petistas trata-se de um mal necessário, pois é consensual, no campo majoritário, que em 2015 a presidente Dilma contratará a manutenção ou o fim do projeto de poder de 2018. Mesmo que Lula venha a ser o candidato, para que o partido evite o susto de 2014, precisa arrumar a economia e retomar o crescimento.
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