Senador alega que pasta é da bancada da Câmara, além de afirmar que não teria tempo para deslanchar ministério em fim de mandato
Júnia Gama
BRASÍLIA — O ex-quase-futuro ministro Vital do Rêgo (PMDB-PB) é citado em todas as reuniões da crise entre PMDB e PT, mas somente nesta terça-feira resolveu se posicionar a respeito da rebelião do partido contra o governo. O senador afirmou que não aceitará o tardio convite para ser ministro de uma pasta que é da cota da Câmara, o Ministério do Turismo, porque não quer “constranger” os colegas deputados e porque, em final de mandato presidencial, comandar o ministério interessa menos que conseguir uma aliança com o PT para eleger seu irmão ao governo da Paraíba.
— Fiz uma reflexão e vi que, se ocupasse um espaço reservado para a Câmara, seria um constrangimento para mim e para meus colegas deputados. Nesse momento, meu posto no Senado, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça e a questão da eleição estadual são mais importantes. Pegar um ministério desses em começo de mandato, com toda a estrutura, dá para fazer deslanchar. Mas, na quadra atual, o tempo é muito escasso e há uma inconveniência para as bancadas. Fica complicado —resumiu o senador.
Vital conta que foi procurado na quinta-feira de Carnaval para saber se aceitaria o convite. Na sexta, conversou sobre o tema com o líder do PMDB na Câmara e cabeça da rebelião, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de quem ouviu que a jogada não iria contribuir para a unidade do partido. Com o temor de que o movimento poderia restaurar uma beligerância interna no PMDB entre as bancadas da Câmara e do Senado, o senador comunicou que não iria assumir o Turismo. Mesmo assim, voltou a ser instado pelo vice-presidente, Michel Temer, no sábado seguinte. Disse a Temer que não se sentiria confortável no cargo e externou que seria imprudente “botar gasolina no fogo” com a Câmara.
Ontem, as tentativas voltaram a se repetir. Pela terceira vez, Vital foi chamado a assumir a pasta pelo Palácio do Planalto. Para a estratégia governista, nomear um senador do PMDB para uma vaga que hoje é da Câmara seria uma forma de isolar Eduardo Cunha em sua rebelião. Novamente, no entanto, Vital negou o convite. Começaram então as negociações para apoio no estado.
Segundo interlocutores, o senador recebeu a promessa de que o governo iria atuar para pacificar o PT na Paraíba em torno ao apoio a seu irmão, Veneziano Vital do Rêgo. Até mesmo o ex-presidente Lula entrou no pacote e irá ao estado para driblar as resistências no PT local, que sequer tem candidato ao governo. A instância regional deverá tomar a decisão no próximo dia 22 de março, deixando duas semanas para que a nacional “influencie” o PT no estado.
— A aliança com o PT na Paraíba é mais que natural, nós sempre apoiamos Lula e o PT esse ano não tem candidato ao governo. Contamos com a presença de Lula em todos os estados onde não há duplicidade de palanques. Ele compreende que a importância da aliança com o PMDB a nível eleitoral e congressual — pontua Vital.
Pesou também na decisão do senador a irritação com o que identificou como tentativa de tachar o PMDB como partido fisiológico. Vital comentou com pessoas próximas que está completando seis meses desde que começou a ser “fritado” por Dilma, pois foi em setembro do ano passado que a presidente pediu ao PMDB indicação para a pasta de Integração Nacional. As bancadas na Câmara e no Senado concordaram com seu nome, mas Dilma preferiu apostar no racha entre os senadores e deputados peemdebistas.
— Não quero me vincular a cargos, até porque não preciso deles, tenho ainda cinco anos de mandato no Senado. Me dá arrepio essa história de ter cargos para satisfazer um fisiologismo no PMDB. Mas, sei que estamos subrepresentados. O que o partido estava pleiteando era um sexto ministério, não uma troca que pode alimentar uma divisão no partido — afirma.
Fonte: O Globo
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