• Em jantar para eleitos, delação e economia são os pratos principais
Cristiane Jungblut, Simone Iglesias e Leticia Fernandes – O Globo
BRASÍLIA - Depois do anúncio de que o blocão teria uma postura mais beligerante em relação ao governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) teve um encontro demorado com o líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa, deputado Eduardo Cunha (RJ), convocado para "acertar os ponteiros". Cunha disse que esteve com Temer antes do jantar oferecido na noite de terça-feira para parlamentares e governadores eleitos pelo partido. O encontro durou cerca de duas horas e serviu para discutir a estratégia de Eduardo Cunha na disputa pela Presidência da Câmara.
Pressionado pela presidente Dilma Rousseff, Temer pediu a Cunha para dialogar também com alguém do governo, como ministros, e não se caracterizar como um candidato de oposição. Cunha foi aconselhado a conversar com Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) ou Aloizio Mercadante (Casa Civil). Peemedebistas afirmam que, pelo fato de ser vice, Temer estaria numa posição desconfortável com Cunha se apresentando como um candidato mais próximo à oposição e disposto a votar temas que incomodam o Planalto.
Na conversa com Temer, Eduardo Cunha disse que não podia ser apenas um candidato de governo e que estava construindo sua candidatura, com o blocão (PMDB, PR, PTB, PSC e Solidariedade).
- Nunca quis ser um candidato de oposição. Mas vou ser um candidato do Parlamento, da Casa. Não vou ser um candidato nem do governo e nem da oposição - disse Cunha.
Jantar em clima de velório
Na noite de terça-feira, Temer recebeu no Palácio do Jaburu governadores, senadores e deputados eleitos para uma confraternização que, segundo participantes, teve mais jeito de velório. Três assuntos dominavam as conversas nas rodinhas e mesas espalhadas pela residência oficial do vice: a expectativa com o envolvimento de mais peemedebistas e integrantes do governo na delação premiada de Paulo Roberto Costa; o cenário econômico ruim; e as derrotas do PMDB nos estados.
- A comida e a bebida estavam ótimas, mas os assuntos, muito difíceis de digerir - contou um parlamentar, acrescentando que há uma apreensão geral com a piora do quadro econômico.
- A expectativa com a economia é péssima daqui para a frente. Já começaram as medidas impopulares, aumento de combustível e de energia, muito ruim isso tudo - disse um senador.
Nas conversas, houve muita reclamação com os embates estaduais com o PT. Peemedebistas criticaram o comportamento do partido e disseram que os problemas terão reflexo na relação do PMDB com o governo Dilma. Um governador afirmou que ninguém defendeu o PT ou Dilma, mas que é fundamental uma convivência mínima.
Outro tema que dominou as conversas foi a Operação Lava-Jato e a delação premida do ex-diretor de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef. Segundo um parlamentar, os comentários eram de preocupação com integrantes do partido envolvidos e sobre a possibilidade de as investigações atingirem o coração do governo, incluindo Dilma e Lula.
Os convidados discutiram, ainda, a necessidade de o partido lançar uma candidatura própria à Presidência em 2018. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, é o mais cotado. Os peemedebistas concordaram com o nome de Cunha para a presidência da Câmara, chancelados pelo anfitrião do jantar, o vice-presidente Michel Temer. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, aliado da presidente Dilma Rousseff (PT), também defendeu o nome de Cunha.
- Será uma mudança de ciclo em 2018. O PMDB já cumpriu muito o papel de âncora da governabilidade. Está na hora de assumir um protagonismo digno de seu tamanho - disse um deputado.
Tensão com o governo Dilma
Os congressistas que estiveram no Jaburu concordaram que há uma tensão com o governo federal, centrado principalmente na figura de Dilma. Para mudar isso, o PMDB quer que o governo retire de pauta o plebiscito para implementar a reforma política e mude a condução da economia. Dos nomes cogitados no Planalto para assumir a Fazenda, o que mais agrada aos peemedebistas é o de Nelson Barbosa, um quadro técnico com traquejo político. O nome de Aloizio Mercadante (Casa Civil) enfrenta enorme resistência no PMDB. Ele é visto como muito próximo da "cozinha" do governo.
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