A vigilância e a crítica são atribuições dos oposicionistas, desde que exercidas nos limites determinados pela civilidade e pela democracia.
O retorno do ex- candidato Aécio Neves ao Senado, saudado por pares e simpatizantes como o principal líder da oposição, foi marcado por manifestações de rejeição aos ocupantes do governo e também por uma declaração sensata. Disse o pretendente derrotado à Presidência que, em nome dos mais de 51 milhões de votos obtidos nas urnas, iria articular o PSDB e seus aliados para que exerçam a vigilância crítica dos atos do Executivo, desde que isso não signifique radicalismos. "Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição", afirmou o senador mineiro, para completar: "Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político".
É o melhor caminho para uma oposição responsável num regime democrático. Acabou a eleição, acabou o antagonismo eleitoral, que neste ano assumiu proporções preocupantes. Agora, o governo tem que governar e a oposição deve assumir o papel fiscalizador, sempre dentro dos limites da civilidade e da legalidade. Ontem, derrotados e vitoriosos ouviram os primeiros pronunciamentos de seus líderes depois do segundo turno. Aécio Neves e Dilma Rousseff discursaram para parte dos liderados, que passam a ser orientados a respeitar os resultados do pleito, sob pena de o país estender para além do razoável o debate que deveria se resumir ao período eleitoral.
Isso não significa que a oposição deva abrir mão de seu papel, mas adequar suas atribuições à normalidade democrática. Que o senador cumpra, como anuncia, a tarefa que cabe aos oposicionistas, e que o governo procure atender compromissos assumidos durante a campanha. Ontem mesmo, a presidente reeleita voltou a dizer que irá se empenhar pela realização das reformas política e tributária, pela implementação da nova política de segurança pública e pelo combate à corrupção.
Esses e outros pontos, incluindo os que não fazem parte da pauta em que oposição e governo convergem, terão de ser enfrentados. A democracia brasileira atingiu grau de maturidade capaz de evitar que se confundam, num clima ainda tenso, o natural empenho da oposição e as manifestações mais radicais que tentam levantar dúvidas sobre a legitimidade de um governo eleito. A manutenção de retóricas eleitorais, por parte de oposicionistas ou governistas, não contribui para o aperfeiçoamento das instituições.
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