- Folha de S. Paulo
Não se deve esperar muita autocrítica de um discurso de posse. É um momento de celebrar a própria vitória, dizer palavras bonitas e repetir promessas para o futuro. Mesmo assim, Dilma Rousseff poderia ter mantido os pés mais perto do chão em sua fala de ontem no Congresso. A presidente exagerou nos autoelogios e ficou devendo um diagnóstico realista sobre os motivos da crise que ronda seu governo.
Dilma falou do remédio, mas não explicou a doença. Admitiu que as contas públicas precisam de um "ajuste", mas omitiu que o tranco só será necessário por causa das barbeiragens em sua primeira gestão. "Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade econômica, da centralidade do controle da inflação e do imperativo da disciplina fiscal", disse.
É difícil acreditar nisso quando se sabe que ela era a verdadeira responsável pela política que produziu deficits sucessivos nos últimos quatro anos. A situação se deteriorou tanto que agora a presidente se viu obrigada a entregar a Fazenda a um economista identificado com a oposição.
Dilma recorreu ao malabarismo para defender o primeiro pacote de cortes, que tirará dinheiro dos trabalhadores para tapar o rombo no Tesouro. A redução de benefícios, que ela tanto criticava na campanha, virou mera "correção de distorções" e de "eventuais excessos". Se os problemas eram tão simples, seria interessante saber por que seu partido levou 12 anos para descobri-los.
Por fim, a presidente indicou que não conhece ou não quer reconhecer a extensão do esquema que pilhava os cofres da Petrobras. Tratou os desfalques milionários na estatal como obra de "alguns servidores que não souberam honrá-la", como se o escândalo não envolvesse altos dirigentes da empresa e políticos dos maiores partidos que a apoiam.
Reconhecer os erros do primeiro mandato seria uma fórmula mais indicada para quem precisa tanto de confiança ao iniciar o segundo.
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