Defesa do legado com promessa de mudanças
• Em discurso no Congresso, presidente diz que protegerá Petrobras de "inimigos externos" e lança slogan "Brasil, pátria educadora, já usado em 2013; cerimônia é acompanhada por 40 mil
- O Globo
BRASÍLIA- Em uma cerimônia com público estimado em cerca de 40 mil pessoas — aquém do esperado pelo PT —, a presidente Dilma Rousseff tomou posse de seu segundo mandato na tarde de ontem, no Congresso Nacional. Diante de dezenas de parlamentares, ministros e representantes de outros países, sobretudo da América Latina, a presidente fez um discurso de cerca de 40 minutos. Nele, defendeu de forma enfática seu primeiro governo, mas admitiu que há forte desejo de mudanças na população, lembrando que essa foi o tema mais citado durante a campanha. Reiterou promessas que já havia feito e sustentou a necessidade de um ajuste fiscal para retomar o crescimento econômico.
Assim como no plenário do Congresso, em que a presença de aliados do governo foi majoritária, as ruas da Esplanada dos Ministérios, que dão acesso à Praça dos Três Poderes, foram ocupadas em boa parte por militantes partidários, muitos trazidos em caravanas de diversos estados pelo PT para festejarem a posse. Sob um sol de 31 graus, era possível ver militantes usando camisas com as cores do PT, vermelho e branco, e um reduzido público vestido "à paisana", sem representação partidária.
Promessas de campanha
O esperado anúncio de novas medidas para ajustar a política fiscal e estimular o crescimento a partir deste ano não ocorreu. Dilma apenas repetiu a necessidade do ajuste e citou iniciativas que já havia prometido na campanha: apresentação de propostas para punir corruptos e corruptores; envio para de um projeto de lei para incentivar o crescimento de micro e pequenas empresas; mudanças na legislação para o governo federal participar mais na segurança pública e novas metas para programas habitacionais, de Saúde e de Educação profissionalizante.
A presidente ressaltou que o ajuste nas contas públicas ocorreria "com o menor sacrifício possível para a população" e reafirmou o compromisso com a manutenção dos direitos trabalhistas e previdenciários. A fala de Dilma, no entanto, ocorreu ainda sob o impacto do anúncio das medidas que restringem o acesso a benefícios como abono salarial, seguro desemprego e pensão por morte, para reduzir os gastos públicos. Já no Palácio do Planalto, após a solenidade no Congresso, Dilma pronunciou uma versão reduzida do discurso que havia feito no Congresso e reforçou a promessa:
— Hoje, depois de 12 anos de governo popular e de grandes transformações, o povo tem o direito de dizer: nenhum direito a menos e nenhum passo atrás, só mais direitos e só o caminho à frente. Esse é o meu compromisso sagrado. Esse é o juramento que faço.
Ao citar o combate à corrupção em seu discurso no Congresso, Dilma mencionou as irregularidades na Petrobras, mas isentou-se de responsabilidade, atribuindo os erros a "alguns servidores" que "não souberam honrá-la". Em um tom agressivo, afirmou ter muitos motivos para defender a Petrobras de "predadores internos e de seus inimigos externos" Prometeu apurar "com rigor tudo de errado que foi feito" mas atacou de forma genérica o capital estrangeiro, afirmando que não irá permitir o que chamou de "cerco especulativo de interesses contrariados" com a adoção do regime de partilha e da política de conteúdo nacional.
Enquanto Dilma discursava no Planalto, houve o encontro de personagens de duas crises políticas dos governos petistas: a presidente da Petrobras, Graça Foster, que está sendo mantida no cargo devido à insistência de Dilma, e a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que deixou o cargo em 2010 sob acusação de tráfico de influência. Erenice foi secretária-executiva de Dilma na Casa Civil, no governo do ex-presidente Lula. Graça e Erenice conversaram brevemente e evitaram contato com a imprensa.
A poucos meses de deixar a Presidência do Uruguai, José Mujica roubou a cena na solenidade do Congresso e também foi aplaudido ao se encontrar com Dilma no Planalto. No plenário da Câmara, foi tietado por diversos convidados, que aproveitaram para fazer selfies com o uruguaio. Bem-humorado, Mujica posou para fotos ao lado do sucessor, Tabaré Vasquez, e da presidente chilena, Michele Bachelet.
Um dos últimos atos da cerimônia foi a posse aos ministros. Houve saia-justa. Considerado um dos nomes mais polêmicos escolhidos por Dilma, o ministro do Esporte, George Hilton (PRB), flagrado em 2005 carregando malas de dinheiro vivo no Aeroporto da Pampulha (MG), foi vaiado no Planalto. A posse de Kátia Abreu (PMDB) na pasta de Agricultura também gerou mal-estar. Enquanto a maioria dos ministros empossados foi aplaudida pelo público, a ruralista amargou um constrangido silêncio quando seu nome foi citado.
Dilma anunciou o novo lema de governo: "Brasil, pátria educadora", uma demonstração de que o tema será prioritário, apesar de ter desbancado seu partido, o PT, no comando da Educação, e colocado no lugar o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PROS).
Encontro com Lula
Com a nova composição ministerial, atendendo a pedidos de partidos aliados, Dilma pretende conseguir apoio do Congresso para aprovar medidas de enfrentamento aos problemas na economia. Em seu discurso de posse, ela fez um chamado aos parlamentares da base, que em seu primeiro governo alternaram momentos de rebeldia e pouca cooperação, com barganhas por cargos e emendas em troca da votação de medidas de interesse do Palácio do Planalto. Dilma pediu que ajudem o governo a superar os "desafios" de melhorar a vida dos cidadãos e combater a corrupção.
Ciente de que enfrentará tempos difíceis e que irá precisar de todo o apoio político com que puder contar, a presidente também fez um gesto a seu principal cabo eleitoral, o ex-presidente Lula. Citado no discurso como o "maior líder popular da nossa História", Lula chegou no Salão Nobre do Planalto minutos antes de Dilma subir a rampa e foi a primeira pessoa com quem a presidente falou ao entrar no local. Eles se abraçaram e Lula assistiu a parte do evento, mas não ficou até o final. Quando Dilma retornou ao salão para dar posse aos ministros, o ex-presidente já havia deixado o local.
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