- O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma explicou ontem, no seu discurso de posse, por que 2015 será de ajuste na economia.
Se passou a ser necessário o ajuste é porque a economia está desajustada. Se a presidente teve de dar explicações e justificativas é porque o anúncio do ajuste vinha sendo mal recebido, especialmente por quem só quer os benefícios e não pagar os preços.
O ajuste a gente já sabe, em princípio, o que terá de ser, embora faltem os pormenores do plano de execução. Trata-se de reequilibrar as contas públicas, de reconduzir a inflação à meta, de derrubar o déficit nas contas externas, de recuperar o investimento e a confiança, para garantir o crescimento do PIB e do emprego.
O ambiente é adverso para uma operação de saneamento econômico. O momento é de aprofundamento da temporada de queda dos preços das commodities, mercadorias que compõem mais de 50% das exportações. O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) começará a reverter sua política monetária altamente expansionista e isso significa que a grande abundância de dólares nos mercados também começará a ser reduzida. O Brasil terá de pagar mais pelos financiamentos em moeda estrangeira.
Nem da Europa nem do Japão se espera recuperação significativa da atividade econômica e a China entrou em franca desaceleração. É um quadro de estreitamento dos mercados internacionais que pode ser atenuado se a economia dos Estados Unidos se recuperar, como se espera.
No âmbito interno, não dá para contar com a retomada vigorosa do crescimento econômico porque a temporada exige sacrifícios e ajuste de contas. A média das projeções do mercado (Pesquisa Focus) prevê um avanço do PIB não superior a 0,6%. Mais um ano de crescimento econômico medíocre implica continuidade da baixa capacidade de arrecadação do setor público.
O fim do represamento dos preços administrados, especialmente da energia elétrica e das tarifas dos transportes urbanos, implica inflação alta e, portanto, juros também em elevação. Não dá para deixar de levar em conta que a corrupção, os escândalos e a deterioração do patrimônio da Petrobrás aumentarão as dificuldades.
A nova equipe econômica conta com apoio dos mercados e dos empresários, mas enfrentará forte resistência política, a começar de segmentos importantes do PT. Se o ajuste terá sucesso ou não é o que ainda vamos ver. Convém pensar que terá, porque se não tiver, será preciso recomeçar.
O que tem de ser perguntado é se além da implantação do ajuste mudará também o modelo de política econômica. A questão é relevante porque alguns analistas entendem que a presidente Dilma não mudou seu jeito de ser. Nesse entendimento, bastará que os indicadores apontem certa recuperação para que ela se sinta tentada a abandonar o caminho do fortalecimento dos fundamentos da economia e volte a seus experimentos que produziram os estragos já conhecidos.
Outra aposta é a de que o sucesso do ajuste será suficientemente forte para que a política econômica então vencedora, a mesma do primeiro período Lula, continue em vigor. É esperar alguns meses mais para ter uma ideia melhor de como as coisas se desdobrarão.
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