• Para cientista político, duros embates da eleição fragilizaram imagem da ex-ministra, que precisa recuperar terreno
Isadora Peron - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, deve manter-se, nos próximos quatro anos, como nome natural da terceira via política, com discurso de alternativa a PT e PSDB. Mas a forma como ela foi derrotada na eleição presidencial do ano passado, após duros embates com a presidente Dilma Rousseff, poderá dificultar uma nova candidatura competitiva à Presidência em 2018.
“Se a gente olhar por um lado, a Marina teve mais votos agora do que em 2010, mas a maneira como ela foi derrotada desta vez compromete muito mais o futuro próximo dela”, avalia o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).
Alçada a candidata favorita após a morte do cabeça da chapa do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em um acidente aéreo em agosto, Marina viu sua candidatura à Presidência desidratar-se após uma série de ataques do PT e de sucessivos erros cometidos durante a campanha. Ela, que havia chegado a dividir a liderança com Dilma, terminou o 1.º turno em terceiro lugar, com pouco mais de 21 milhões de votos.
Rede. Para continuar no páreo, Marina terá como primeiro desafio formalizar a criação do seu novo partido, a Rede Sustentabilidade. A militância já voltou a recolher assinaturas para criar a sigla, depois da tentativa frustrada do ano passado.
Se tudo ocorrer como planejado, a ex-ministra desembarca do PSB nos próximos meses, após a Rede conseguir o registro na Justiça Eleitoral. O grupo sofreu baixas após as eleições, mas tenta se reorganizar e não abandonou o sonho de ser o representante da “nova política”. Essa imagem, porém, foi arranhada depois de a ex-ministra decidir apoiar o tucano Aécio Neves no 2.º turno da eleição.
Partido. Diante da perda do seu grande líder e com a saída de Marina, o PSB também trabalha para não perder o protagonismo que teve no pleito passado. A ideia é transformar o partido em uma alternativa de terceira via. Apesar de a sigla também ter apoiado Aécio no 2.º turno, o PSB começou a se afastar do PSDB e promete fazer uma “oposição de esquerda” contra o governo Dilma, do qual fez parte durante quase todo o primeiro mandato.
No mês passado, o partido se juntou com o PPS, o PV e o Solidariedade para formar um bloco parlamentar que atuará na Câmara e que deverá ser a segunda maior força da Casa nesta nova legislatura. O grupo não descarta a possibilidade de uma fusão no futuro, para a criação de uma única legenda mais fortalecida.
Também faz parte da estratégia do PSB o lançamento da candidatura do deputado Júlio Delgado para a presidência da Câmara, em fevereiro, a fim de marcar a posição de independência. O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e o deputado Arlindo Chinaglia (PT), são os candidatos lançados até o momento.
O PSB planeja ainda transformar o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que foi candidato a vice na chapa de Marina, em uma liderança nacional. Sem mandato, ele recusou um cargo no governo do Rio Grande do Sul para ficar em Brasília e ajudar a articular a atuação do PSB na oposição.
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