- O Globo
A presidente Dilma continua no país cenográfico da campanha. A corrupção vem dos outros: "dos predadores da Petrobras e inimigos externos"; seu governo já tinha feito um "vigoroso processo de aprimoramento de gestão" na empresa. Ela sempre deu prioridade ao combate à inflação, ao ajuste fiscal, produziu um "salto de qualidade na logística" e respeitou o sustentabilidade.
Dilma disse que seu governo foi o que mais combateu a corrupção. O combate à corrupção tem sido feito por órgãos de Estado, como a Polícia Federal. Ou então por instituições com independência constitucional, como o Ministério Público e a Justiça. No que dependeu da sua base no Congresso, foi feita uma vergonhosa CPI da Petrobras na qual se serviu uma pizza.
Ninguém imaginava que ela fosse admitir o quanto o aparelhamento político-partidário da Petrobras e a desorganização administrativa na empresa estão por trás do pior momento da vida da estatal. Mas ela tentou pôr a realidade pelo avesso e se apresentou como a líder do combate à corrupção na empresa e no país.
Num dos piores momentos do discurso, ela tentou jogar sobre os críticos das opções técnicas feitas pelo governo a culpa pela crise da Petrobras. "Não podemos permitir que a Petrobras seja alvo de um cerco especulativo de interesses contrariados com a adoção do regime de partilha e da política de conteúdo nacional". Esse não é o problema. O que enfraqueceu a empresa, e disso todos sabem, foi o saque aos seus cofres com a corrupção contaminando inúmeras atividades da Petrobras numa operação cujos contornos ainda não estão inteiramente conhecidos. Mas nada têm a ver com o debate técnico sobre qual é o melhor regime de explorar o petróleo. A empresa não consegue sequer ter um balanço auditado. Aqui o contorcionismo ultrapassou os limites. O país precisa de um combate sistemático à corrupção, mas isso não se faz tergiversando sobre o que realmente está acontecendo na nossa maior e mais importante empresa.
Houve momentos em que dava a impressão de que ela pisaria no planeta Terra. "As mudanças que o país espera para os próximos quatro anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia". Sim, dependem. E por isso ela trocou de orientação econômica. Mas não foi isso que ela disse para completar a frase. Segundo Dilma, no seu governo sempre houve a "centralidade do controle da inflação, e o imperativo da disciplina fiscal". A verdade é que no primeiro mandato a inflação nunca esteve na meta de 4,5% e chega-se ao fim dos quatro anos com os piores resultados fiscais em quase duas décadas.
Ela disse que a dívida líquida caiu. Na verdade, o importante é a dívida bruta, e esse indicador aumentou nove pontos percentuais do PIB durante seu primeiro mandato. A farra das transferências para o BNDES ajudaram a mascarar esse aumento quando o dado que se olha é a dívida líquida.
Dilma entrou em contradição quando disse que o mais importante é retomar o crescimento e "o primeiro passo para isso passa por um ajuste nas contas públicas". Estranho. Ou bem o ajuste é necessário, ou bem ela sempre respeitou o "imperativo da disciplina fiscal".
A presidente disse que dará prioridade ao desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação. Seu ministro dessa área será Aldo Rebelo, que tem certa incompatibilidade com o tema. Dilma lançou o lema do segundo mandato que seria "simples, direto e mobilizador". O lema é: "Brasil, pátria educadora". Segundo ela, a educação será a "prioridade das prioridades". Ela executará isso através do ministro Cid Gomes.
Definiu o Brasil como "o país líder, no mundo, em políticas sociais transformadoras" e atribuiu apenas aos governos do PT todos os avanços de inclusão que aconteceram no país, recriando a ideia do "nunca antes".
Segundo Dilma, seu governo "investiu muito e em todo o país sem abdicar do compromisso de sustentabilidade ambiental". A taxa de investimento caiu no ano passado 7% e houve retrocessos na política ambiental. E esse foi o discurso feito no Congresso e não dedicado à militância.
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