• Governo adia nomeações para depois de presidências no Congresso serem definidas, após PMDB dar apoio a Cunha e à bancada no Senado
João Domingos e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto cedeu à pressão do PMDB para que fosse suspenso o uso da máquina do governo em favor da candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP) para a presidência da Câmara. Pelo acordo costurado entre o vice-presidente da República Michel Temer, também presidente do partido, e a presidente Dilma Rousseff, ficam suspensas as nomeações para o segundo escalão até as eleições para o comando da Câmara e do Senado, que ocorrerão no dia 1.º. Além disso, ministros do PT que vinham trabalhando pelo petista devem deixar claro que atuam pelo partido, e não em nome do governo.
O acordo foi costurado após Temer comandar uma reunião da Executiva do PMDB em que tornou oficial a candidatura do líder Eduardo Cunha (RJ) à presidência da Câmara. A cúpula do partido também anunciou apoio ao nome que o partido escolher no Senado. No caso, o atual presidente, Renan Calheiros (AL), que não costuma se lançar antecipadamente.
Com o ato, Temer quis mostrar a unidade do PMDB na decisão de apoiar candidatos à Câmara e ao Senado - o que não era feito desde 2000. Além disso, trata-se de um aceno aos correligionários após os questionamentos sobre a nova composição ministerial. Para os peemedebistas, Temer teria sido mais beneficiado que outros grupos políticos da legenda.
O vice-presidente, segundo relatos dos presentes, defendeu que o partido mantenha seu “poder congressual” e disse que era o momento para se buscar a “unidade do partido”. Fez questão também de exaltar Cunha. “Ao contrário do que alguns imaginavam, nunca fui contra (a candidatura). Eduardo é o nosso candidato”, afirmou. Na saída do evento, negou que o partido já tenha convidado a senadora Marta Suplicy (PT-SP) para migrar ao PMDB.
Dobradinha. Na reunião do PMDB, também sobraram queixas ao governo e aos ministros Gilberto Kassab (Cidades) e Cid Gomes (Educação). Cinco presentes ao encontro queixaram-se das articulações de ambos para se criar novos partidos e blocos parlamentares que poderiam enfraquecer o PMDB no Congresso. A crítica é que o movimento conta com o incentivo do Planalto, interessado em diminuir a dependência dos peemedebistas no Legislativo.
Um dos mais exaltados foi o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). “Todos nós sabemos, ninguém aqui é neném. A dobradinha Kassab e Cid foi criada para nos diminuir”, disse, ao defender que o partido trabalhe para impedir a saída de parlamentares em direção a novas legendas. A direção do PMDB teme ver repetir no partido o estrago feito por Kassab no DEM, quando tirou quase metade da bancada e a levou para o PSD.
Cunha e Renan não participaram do encontro. Os dois são tidos como favoritos na disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Na primeira, além de Cunha e de Chinaglia, é candidato o líder do PSB, deputado Júlio Delgado (MG), que busca o voto de parte da oposição e dos independentes.
A decisão da Executiva do PMDB ocorre num momento de crescente tensão na disputa pela Câmara. Tido como desafeto do Planalto, Cunha se queixa de que notícias veiculadas na semana passada, segundo as quais ele teria se beneficiado dos repasses do esquema de corrupção na Petrobrás, têm o objetivo político de prejudicar sua candidatura. Para ele, trata-se de “alopragem”.
Na terça-feira, a defesa do doleiro Alberto Youssef protocolou na Justiça Federal do Paraná petição em que afirma que ele “nunca teve qualquer relação com Cunha”. No entanto, na delação premiada firmada com a Justiça, Youssef citou o peemedebista como um dos “beneficiários” de propinas do esquema. Os pagamentos, de acordo com a delação, eram feitos via empresário Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB. Virtual candidato ao Senado, Renan também foi citado na Lava Jato.
Colaboraram Ricardo Della Coletta e Isadora Peron
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