• Decisão tomada pela cúpula da legenda desagradou integrantes da sigla em São Paulo
Ana Fernandes, José Roberto Castro e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O PSDB decidiu adiar todo o calendário de convenções, zonais, municipais, estaduais e nacional, deste ano, por causa das manifestações do dia 15. A decisão foi tomada na semana passada, no dia 26, às vésperas das convenções de diretórios zonais que aconteceriam em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, o que pegou tucanos pelo País de surpresa e gerou insatisfação interna. A resolução do dia 26 dizia apenas que a mudança levava em consideração a "conveniência indicada por direções do PSDB nos níveis Municipal e Estadual".
"Se alguém tem responsabilidade nisso (o adiamento) sou eu, como vice-presidente. Eu fui o primeiro a alertar o Aécio para a coincidência de datas das nossas convenções municipais com as manifestações do dia 15", disse ao Broadcast Político o senador e vice-presidente do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB). Segundo o senador, o presidente nacional da legenda, senador Aécio Neves, então encaminhou a sugestão para a Executiva.
Sobre as reclamações de a decisão ter vindo de cima e muito perto da data das convenções zonais, manifestações essas que se centraram no PSDB paulista, Cunha Lima rebateu que "o partido não é só São Paulo" e disse que os paulistas devem ter reclamado sem saber do motivo da direção do partido.
"Quando eles perceberem que coincidiria com a data da manifestação, vai cair a ficha deles. Contrassenso seria o partido estar concorrendo em visibilidade com esses eventos", disse Cunha Lima.
O deputado Bruno Araújo, também membro da Executiva Nacional do PMDB, corroborou a versão de Cunha Lima. "Estamos nesse período agitado de manifestações e muitos diretórios municipais pediram para adiar. Qualquer outro motivo que estejam falando é invenção, especulação", afirmou à reportagem.
João Almeida, diretor de Gestão Corporativa do PSDB, é apontado como um dos responsáveis pela "decisão imposta". Procurado, ele disse que um dos motivos foi a mudança na disciplina de filiação ao PSDB, que permitiu a filiação de "muitas pessoas" e que esses novos integrantes precisariam também votar. "Os titulares da Executiva, todos, foram consultados previamente, concordaram, muitos com aplauso", relatou Almeida.
As convenções que iriam de março a maio, agora irão de maio a julho. As convenções municipais e zonais passam à data base de 10 de maio. As convenções municipais em municípios com mais de 500 mil eleitores passam à data base de 31 de maio. As convenções estaduais para 7 de junho e a convenção nacional para o dia 5 de julho.
Insatisfação. A notícia foi recebida por diversos integrantes do partido em São Paulo como uma ingerência, uma decisão intempestiva que alterou todo o planejamento dos diretórios zonais e municipais no Estado. "A decisão veio pronta, a insatisfação foi geral. Pra mim é inexplicável a decisão, eu não sei o porquê. Só sei que no Estado de São Paulo há uma insatisfação muito grande, complicou muito", disse um dirigente paulista que preferiu não se identificar.
"É um grande absurdo esse adiamento, decidido por interesse de alguns dirigentes e que põe em risco todo o partido", disse outra liderança tucana paulista, em condição de anonimato. Alguns chegaram a relatar à reportagem que se falou em um possível interesse de Aécio em postergar um provável segundo mandato na presidência do PSDB para estar no cargo no segundo semestre de 2017, perto da data de definição da candidatura à Presidência da República para 2018. João Almeida, contudo, esclareceu que esse rumor não faz sentido pois as convenções de 2017 não foram postergadas. "Quem for eleito, vai cumprir mandado até o prazo certo de fazer a convenção: março, abril e maio de 2017", disse Almeida.
Alguns dirigentes do partido relataram também falta de organização e divergências internas do PSDB em alguns Estados como um motivo que também impulsionou a mudança. Minas Gerais, Estado de Aécio, seria um dos diretórios em que a disputa estaria mais acirrada."A executiva vai estudar a situação de alguns diretórios onde o partido praticamente não existe. Algumas cidades precisam de um tratamento mais forte. Vamos antes terminar um balanço sobre os diretórios", diz o senador tucano Aloysio Nunes (SP)
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